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Temer sugere que PMDB abandone governo

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Por Agencia Estado
Atualização:

O governo acaba de ganhar mais um problema no PMDB. O ex-presidente da Câmara, deputado Michel Temer (SP), um dos maiores defensores da aliança governista na cúpula do partido, está mudando de lado. Temer defende pela primeira vez que o partido saia do governo e entregue todos os cargos. Para ele, será "inviável, impraticável, impossível" negar a possibilidade de candidatura própria. "E não creio que seja possível ter essa definição e permanecer no governo", afirma Temer. "Optou pela candidatura própria, tem de sair do governo." Para evitar isso, diz, o governo precisaria tratar melhor o PMDB, "mas está ficando tarde". AE - O PMDB está dentro ou fora do governo? Michel Temer - O PMDB tem de decidir imediatamente seu rumo. Ou ele integra em definitivo a base do governo, faz uma opção clara e defende essa opção, ou vai imediatamente, em definitivo, para a candidatura própria. AE - E aí sairia do governo? Temer - Aí necessariamente teria de sair do governo. Não vejo como compatibilizar as duas posições. Até porque são contraditórias. Não creio que seja possível ter definição pela candidatura própria, com candidatos já postos, e permanecer no governo. Acho absolutamente inviável. Hoje tenho absoluta convicção disso. AE - Essa situação é atávica no PMDB? Desde o governo Sarney (1985-1990) que o partido vive o dilema de ser ou não governista. Temer - Acho que em face da sua pluralidade regional. O PMDB tem uma organização nacional, mas, por outro lado, uma presença de líderes locais muito fortes e muitas vezes em divergência. Essa divergência é que tem prejudicado o PMDB. E eu penso até que a tese da candidatura própria, que hoje prevalece, poderia servir para estabelecer a unidade partidária. AE - Nesse caso, o PMDB entregaria todos os cargos? Temer - No instante em que haja definição pela candidatura própria, recomenda a ética política que se entreguem os cargos. AE - Mas muitos no PMDB acham melhor continuar com um pé no governo e outro na candidatura própria, até como instrumento de chantagem. Temer - Não acho que essas pessoas queiram chantagear. Agora, é uma posição que não dá para sustentar. A realidade política caminhou com uma tal velocidade que é impossível a sustentação dessa dubiedade. Daí, o próprio eleitor vai percebendo que essa dubiedade é desfavorável ao PMDB. AE - O partido poderá pagar na urna por essa indefinição? Temer - Não há dúvida. Vai sofrer as conseqüências políticas que se manifestarão nas urnas. Se, ao contrário, toma uma decisão concreta, firme e positiva, fica maior perante o eleitor. AE - Mas não seria melhor sair agora? Temer - Poderia ser agora ou até setembro, quando ocorre a convenção do partido. Esse será o momento da definição, a data-limite, quando estaremos ainda a um ano das eleições. E nessa encruzilhada será preciso escolher o melhor caminho. AE - E qual é a sua posição pessoal? Temer - Acho que é muito importante para o PMDB ter candidato próprio. É a vontade prevalecente da base do partido. Não descarto a hipótese da aliança, desde que tenhamos presença efetiva no governo. AE - O PMDB está maltratado no governo? Temer - Diria que não há uma integração definitiva do PMDB no governo. Existem problemas nessa relação. Por exemplo, temos o ministro Eliseu Padilha (Transportes) que muitas vezes é criticado em função das estradas e reconhecidamente tem-se dito que o ministério não tem verbas para resolver problema das estradas. Isso não é útil para o partido. É preciso que o governo lhe dê mais atenção. AE - Será difícil manter a aliança até 2002? Temer - Depende da convenção, mas sinto em todo o País uma tendência muito grande pela candidatura própria. Será inviável, impraticável, impossível negar essa possibilidade. AE - A não ser que o governo mude. Temer - A não ser que haja uma reequação das forças políticas. Mas eu creio, com toda a franqueza, que já está ficando tarde. Hoje a tese da candidatura própria se entranhou no espírito de todos os peemedebistas. AE - Essa reequação significa mais espaço para o PMDB? Temer - Dar espaço pode ter um sentido fisiológico. E não quero conferir isso ao partido. Acho que é estabelecer uma estratégia política da qual o PMDB participe. Isso é fundamental. Já defendi a aliança, quem sabe, com um candidato do PMDB na cabeça. A aliança não quer dizer que o candidato seja do partido A, B ou C. AE - O governo consegue sair dessa crise? Temer - Se eu quisesse usar o lugar-comum, diria que o governo está numa espécie de inferno astral. O presidente é um homem habilidoso. Acho que o governo precisa agir ao invés de simplesmente reagir. O governo tem reagido muitas vezes e é preciso algo que já ouvi. A frase até não é minha. Mas é preciso que o governo saia um pouco do Planalto e vá para a planície. Acho que é preciso que o governo (e isso está muito ligado à idéia de ação) passe a percorrer o País, verificando e dando respostas às necessidades. Uma presença quase física, visual do governante.

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