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Temer quer filha fora da gestão de Haddad

Luciana Temer, no entanto, diz não ver ‘nenhum motivo’ para deixar secretaria

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Foto do author Pedro  Venceslau
Por Ricardo Galhardo e Pedro Venceslau
Atualização:
  Foto: ALICE VERGUEIRO | PAGOS

São Paulo - Maior beneficiário de um possível impeachment da presidente Dilma Rousseff e visto como inimigo número 1 pelo PT, o vice-presidente da República, Michel Temer, manifestou a auxiliares o desejo de que sua filha, a secretária municipal de Assistência Social de São Paulo, Luciana Temer, deixe o cargo que ocupa desde 2013 no governo do petista Fernando Haddad.

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Ele teme que a filha, filiada ao PMDB, mas vista como um quadro de perfil técnico, seja contaminada na agressiva disputa pelo Palácio do Planalto.

Luciana, no entanto, decidiu permanecer ao lado de Haddad e contrariar o movimento do PMDB paulista que, com o incentivo de Temer, está em processo de afastamento em relação ao prefeito desde a filiação da senadora Marta Suplicy, virtual adversária do petista na disputa eleitoral do ano que vem.

Além disso, segundo fontes da Prefeitura, além de firmar o pé em seu cargo na gestão petista em São Paulo, Luciana sinalizou que pode deixar o partido presidido pelo pai e seguir o movimento do secretário municipal de Educação, Gabriel Chalita, presidente municipal do PMDB. O objetivo de ambos é apoiar a reeleição de Haddad no ano que vem tendo como um dos principais adversários, muito provavelmente, o PMDB.

Ex-tucano, Chalita apoiou a candidatura Haddad em 2012 e tornou-se no ano seguinte o principal representante do PMDB na gestão do petista e presidente municipal da legenda. Cotado para ser vice de Haddad em 2016, ele ficou isolado na sigla com a entrada de Marta. Mesmo sem respaldo partidário, ele ainda é apontado como o nome mais cotado para compor a chapa com Haddad, mesmo que seja por outro partido.

De acordo com fontes do PT e da prefeitura, Luciana Temer tem indicado que pode deixar o PMDB e seguir Chalita rumo a outra legenda, possivelmente o PDT, caso o PMDB, orientado por Temer, imponha o nome de Marta Suplicy.

Depois de 33 anos no PT, a ex-prefeita de São Paulo e senadora oficializou no fim de setembro, na capital paulista, a sua filiação ao PMDB. Na ocasião, o vice-presidente deu as boas-vindas à colega e disse que o PMDB é um partido de “divergências internas quase permanentes, que fazem a sua grandeza”. Temer afirmou ainda que os dois possuem “a mesma fé e os mesmos ideais”.

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Recado. Conforme petistas, Luciana Temer já teria informado ao pai que vai apoiar a reeleição de Haddad em 2016, mesmo que seja à revelia do PMDB. A assessoria de Michel Temer nega que o vice tenha recebido o aviso. Ao Estado, por meio da assessoria de imprensa da Prefeitura, Luciana negou ter recebido qualquer orientação do pai e afirmou que não pretende deixar o governo Haddad.

“Não recebi nenhuma recomendação. Me sinto absolutamente integrada na equipe do prefeito Fernando Haddad. Não vejo nenhum motivo para me movimentar”, disse ela. Procurada várias vezes pelo Estado, tanto por telefone quanto pela sua assessoria, Luciana se recusou a responder a outras perguntas da reportagem.

Cracolândia. Doutora em Direito Constitucional pela PUC-SP, onde é professora-assistente, Luciana Temer seguiu os passos acadêmicos do pai mas, ao contrário dele, tornou-se uma “técnica” e sempre teve, segundo pessoas próximas, aversão ao varejo partidário.

Deputados e vereadores do PMDB paulista dizem que Luciana nunca teve vida orgânica na legenda. Sua experiência em um cargo de primeiro escalão foi entre os anos de 2001 e 2002, quando foi secretária estadual da Juventude, Esporte e Lazer, no governo Geraldo Alckmin (PSDB).

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Na gestão Fernando Haddad, ela é apontada como uma das secretárias mais elogiadas pelo prefeito, que já reafirmou diversas vezes não abrir mão da auxiliar e lhe passou uma das missões mais delicadas e polêmicas de sua gestão: executar o programa “Braços Abertos”.

Implementado pela Prefeitura de São Paulo na região da Luz, no centro da capital, o programa tenta diminuir o chamado “fluxo” de usuários de drogas por meio da política de redução de danos.

Luciana tornou-se uma referência no debate sobre dependência química ao defender que o cuidado com o dependente químico deve ter prioridade sobre a repressão na questão das drogas. Ao lado do secretário de Direitos Humanos e ex-senador Eduardo Suplicy, a filha do vice-presidente da República também faz o acompanhamento de moradores de rua.

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