Em gesto ao PSDB, Temer deixará articulação política

Vice-presidente avalia que pode esperar um pouco para que o desembarque não seja visto como mais um fator de instabilidade política, logo após a denúncia contra o presidente da Câmara

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Por Vera Rosa e Alberto Bombig
Atualização:

Atualizado às 19h50

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Brasília - O vice-presidente Michel Temer (PMDB) está disposto a deixar o cargo de coordenador político do governo Dilma Rousseff para se aproximar ainda mais dos partidos de oposição à presidente. O movimento seria uma espécie de alvará para que ele possa intensificar o diálogo iniciado nos últimas dias com líderes do PSDB e que tem no horizonte um apoio dos tucanos a uma eventual gestão Temer no Planalto.

A senha para a movimentação de Temer foi a manifestação pública do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), na segunda-feira passada, defendendo a renúncia de Dilma. Entre tucanos e peemedebistas, as posições de FHC foram interpretadas como um freio nas articulações do senador Aécio Neves (PSDB-MG), que trabalha pela realização de novas eleições presidenciais.

Alas tucanas alinhadas a FHC e ao senador José Serra (SP) acreditam que não há saída para a crise sem a participação de Temer. Ao longa desta semana, emissários do vice conversaram disseram a tucanos que Temer está disposto a fazer um governo de “transição” caso Dilma não termine o mandato.

O presidente da Camara dos Deputados, Eduardo Cunha com o vice-presidente Michel Temer Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Outro compromisso a ser assumido pelo vice, nesse cenário sem Dilma, seria o de não ser candidato à reeleição. Em termos práticos, Temer recebe apoio do PSDB para tirar Dilma e, em contrapartida, abre caminho para uma candidatura tucana em 2018. O vice, no entanto, não abre mão de indicar um nome do PMDB para disputar sua eventual sucessão.

A negociação encontra resistências. Aécio tem fortes restrições à possibilidade de Dilma renunciar por avaliar que os tucanos não podem perder o protagonismo no movimento pelo impeachment da presidente e porque sonha em usar seu bom momento nas pesquisas de intenção de voto para presidente numa nova eleição – ele é o primeiro colocado nas mais recentes sondagens.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que também resiste a qualquer tipo de afastamento da presidente porque planeja ser candidato somente em 2018, passou a avaliar de maneira positiva a possibilidade de um governo Temer porque, nesse arranjo, Alckmin também se manteria no jogo até lá.

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Prazo. Temer avalia, no entanto, que pode esperar um pouco para que seu desembarque da articulação política não seja visto como mais um fator de instabilidade política, logo após a denúncia contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado pela Procuradoria-Geral da República de corrupção e lavagem de dinheiro.

Temer conversou com Cunha nesta sexta-feira, 21, em São Paulo. O presidente da Câmara garantiu que não renunciará, mas avisou que passará a defender “com vigor” o rompimento do PMDB com o governo Dilma Rousseff. Não foi surpresa: dias antes de ser denunciado, Cunha já tinha dito a Temer e a líderes do governo que não cairia sozinho.

Aborrecido com “olhares enviesados” de petistas, após fazer um apelo pela reunificação nacional, e pressionado pelo PMDB, partido que comanda, Temer não definiu a data de saída da articulação política, mas já disse a amigos que o trabalho tem “prazo de validade”.

Oficialmente, o argumento do vice é o de que havia se comprometido a fazer a articulação do Planalto com o Congresso até a votação das medidas do ajuste fiscal e o último projeto, que reonera a folha de pagamento das empresas, foi votado na quarta. Braço direito de Temer, o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB), também pretende sair da articulação política do governo e se dedicar exclusivamente à sua pasta.

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Padilha está insatisfeito por considerar que vem sendo sabotado pelo PT, mas ficou furioso após ter sido desautorizado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, nos últimos dias. A crise ocorreu porque Padilha havia prometido a líderes de partidos aliados liberar R$ 500 milhões para pagamento de emendas parlamentares, mas, na última hora, Levy entrou em cena e proibiu o desembolso.

Na quarta-feira à noite, o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, procurou Temer e Padilha, na tentativa de desfazer o mal-estar. Até agora, ninguém no governo arrisca um palpite sobre o desfecho da crise com o PMDB.

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