PEQUIM/BRASÍLIA - O presidente Michel Temer disse no sábado, 2, em Pequim, que não vai antecipar sua volta ao Brasil, prevista para a terça-feira, 5. “Depois que disseram que eu vou voltar, eu vou voltar não. Vou ficar”, declarou o presidente quando questionado sobre o assunto por jornalistas brasileiros.
A chegada de Temer ao Brasil está prevista para quarta-feira, 6. O Palácio do Planalto negou que o presidente tivesse decidido retornar ao País para se preparar juridicamente e articular uma reação política à provável nova acusação formal da Procuradoria-Geral da República.
De acordo com fontes ouvidas pelo Estado, Temer cogitou mudar sua programação, sob o argumento de que gostaria de estar em Brasília na terça-feira para a votação dos dois últimos destaques ao projeto que eleva a meta fiscal. Na semana passada, o governo não conseguiu reunir quórum necessário para aprovar as propostas. A nova tentativa está marcada para a véspera do feriado de 7 de Setembro, que normalmente reduz a presença de parlamentares na capital.
Para antecipar sua volta, o presidente teria de interromper sua participação na cúpula dos BRICS, o grupo de países formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. No sábado, na capital chinesa, Temer encerrou um seminário com cerca de 300 representantes de empresas da China e do Brasil.
‘Ladrão-geral’. Em resposta a uma nota divulgada na sexta-feira, 1, pela Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), o empresário Joesley Batista, do grupo JBS, chamou o presidente de “ladrão-geral da República” e disse que ele “envergonha” todos os brasileiros. Delator da Lava Jato, Joesley afirmou, também em uma nota, que a colaboração premiada é um direito e que o ataque a essa prerrogativa revela a “incapacidade” de Temer se defender “dos crimes que comete.”
Na nota da Secom, o Palácio do Planalto desqualificou o operador Lúcio Funaro, que firmou acordo de delação com o Ministério Público, e se referiu a Joesley como “grampeador-geral da República.”
“A colaboração premiada é por lei um direito que o senhor presidente da República tem por dever respeitar. Atacar os colaboradores mostra no mínimo a incapacidade do senhor Michel Temer de oferecer defesa dos crimes que comete. Michel, que se torna ladrão-geral da República, envergonha todos nós brasileiros”, respondeu Joesley, em seu comunicado.
O advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, defensor de Temer, disse que a declaração do empresário “não merece nenhuma resposta em face da sua origem e do conhecido comportamento absolutamente reprovável do delator”.
O depoimento de Joesley – que gravou conversa com Temer, no Palácio do Jaburu – serviu como base para a primeira denúncia apresentada contra o presidente pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por corrupção passiva. “A resposta já foi dada pela Câmara dos Deputados, que rejeitou a denúncia baseada na acusação dessa mesma pessoa”, afirmou Mariz.
A delação de Funaro ainda não foi homologada e está sob sigilo. As acusações do operador atingem Temer e outras figuras de expressão no PMDB, segundo apurou o Estado.