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Temer desiste do projeto de reeleição e anuncia candidatura de Meirelles

Nome do ex-ministro, porém, ainda enfrenta resistências no partido e terá de passar pelo crivo da convenção do MDB

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Por Vera Rosa , Igor Gadelha e Julia Lindner
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer lançou nesta terça-feira, 22, a pré-candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles ao Palácio do Planalto. A uma plateia que não escondeu a divisão do MDB, Temer anunciou o que todos já sabiam: a desistência de entrar na disputa por um novo mandato. Em discurso de 30 minutos, ele pregou a união do partido e disse que quem não concordar em assumir a campanha do ex-comandante da economia deve deixar a sigla.

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"Digo, sem medo de errar: o Meirelles é o melhor entre os melhores. Por isso, Meirelles tem todas as condições de estar não só à frente do partido, mas à frente da nossa campanha eleitoral", afirmou Temer, em ato político na Fundação Ulysses Guimarães, onde o MDB também lançou o documento "Encontro com o Futuro", com diretrizes para o programa de governo. "Ficarei orgulhosíssimo se um dia Meirelles for proclamado, pelo voto popular, presidente da República Federativa do Brasil", insistiu.

Michel Temer discursa em evento em Brasília Foto: Marcos Corrêa/Presidência/Divulgação

A candidatura de Meirelles, porém, ainda terá de passar pelo crivo da convenção nacional do MDB, em julho, e pode ser retirada.  O presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR), admitiu que o ex-ministro – hoje com menos de 1% das intenções de voto nas pesquisas eleitorais ­-- tem prazo de 60 dias para crescer. Até lá, o partido avaliará o cenário eleitoral para decidir se o nome dele será ou não registrado.

Impopular, Temer não participará ativamente da campanha nem subirá no palanque dos concorrentes do partido. Em conversas reservadas, pré-candidatos do MDB nos Estados observam que seria um “suicídio político” colar suas imagens à rejeição do presidente. “Ele vai governar e colaborar da forma que puder. Não tem receita própria”, desconversou Jucá. “O presidente tem sete meses de governo pela frente. Há muita coisa a ser feita e ele estará totalmente dedicado a isso”, emendou Meirelles.

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Atualmente, nove diretórios do MDB – entre os quais Alagoas, Ceará e Paraná – são contra a candidatura do ex-titular da Fazenda ao Planalto. Querem que o partido libere os votos para que possam fazer coligações regionais com outras legendas, como o PT, principalmente no Nordeste.

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Temer reconheceu o racha na legenda, mas pediu a unidade e disse esperar que Meirelles seja o único candidato no bloco de centro, possibilidade considerada remota até por seus aliados. “Pode haver divergência, que será resolvida pela convenção nacional. Mas dizer “Ah, eu não apoio o Meirelles... Então, que saia do partido!”, discursou ele, sem mencionar nomes de correligionários opositores.

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Apesar da tentativa de fazer uma festa na sede da Fundação Ulysses Guimarães, onde ocorreu o ato, o anúncio de Meirelles não contou com a empolgação da plateia. Os aplausos eram tão escassos que Temer chegou a pedir mais "animação". "Temos de animar um pouco o auditório", conclamou.

'Homem simples de Goiás'

Temer fez vários elogios a Meirelles, a quem chamou de “um homem simples de Goiás que ganhou o mundo”. Lembrou que o escolheu para comandar a economia pela "sensibilidade, liderança e talento".

Sem mencionar as denúncias das quais têm sido alvo, o presidente também disse ser vítima de “inverdades”. Argumentou, no entanto, que, mesmo com toda a crise, o MDB tem o dever de lançar um candidato e defender o governo. 

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“Se estou resistente é porque estamos com a verdade e ela nos fortalece. A dor da acusação injusta não vai me paralisar. Do meu momento cuido eu”, afirmou. "Sou realista. Sei o que fiz e o que não fiz. Sei o que falei e o que falam por mim. Estamos com a verdade, e ela nos fortalece.”

Cristão novo no MDB, oriundo do PSD, Meirelles prometeu tudo fazer para defender o “legado” do governo. “Se vocês acham improvável a eleição de um candidato do MDB, eu vos digo uma coisa: o que fizemos, nos últimos dois anos, é prova de que o improvável é só uma questão de oportunidade”, destacou o ex-ministro.

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Na tentativa de driblar comentários de que, sem perspectiva de poder, o seu governo já acabou, Temer repetiu que há muito por fazer no tempo que lhe resta à frente do Planalto.  E, dirigindo-se ao ex-ministro, tentou animá-lo: “Se produzirmos um terço do que produzimos nesses dois anos, Meirelles, você vai pegar o País com uma tranquilidade absoluta. Temos que aprovar (no Congresso) o que for possível e urgente."

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O presidente e o ex-ministro chegaram juntos à Fundação Ulysses Guimarães. Logo na entrada, um imenso banner mostrava os dois sorridentes, ao lado do slogan “Nossa União nos Fortalece”. No telão de LED, frases contidas no documento “Encontro com o Futuro”, idealizado pelo ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, eram exibidas a todo momento.

Programa

A cartilha faz um diagnóstico da situação que Temer encontrou o País, em maio de 2016 – no rastro do impeachment de Dilma Rousseff --, sustenta que havia um "colapso" nas finanças e prega a continuidade do projeto do MDB. "A sociedade brasileira estará, muito em breve, diante de uma escolha crucial: seguir em frente ou voltar atrás (...). Atravessamos um rio de águas tormentosas e agora, uma vez na margem, não podemos desperdiçar a travessia”, diz um dos trechos.

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Terceiro documento programático lançado pelo MDB desde 2015 – o primeiro foi “Uma Ponte para o Futuro” e o segundo, “A Travessia Social” --, o texto defende uma agenda de reformas, com mudanças na Previdência e no serviço público, além de um Estado menos intervencionista. Nenhuma medida, porém, é detalhada.

Com políticos na mira da Lava Jato, incluindo Temer, o MDB também dá estocadas no Ministério Público e no Judiciário. Ao sustentar que a prática da Constituição de 1988 tem sido a "diluição dos poderes do Executivo" e o "transbordamento da intervenção das instituições de controle", o texto faz algumas críticas. Afirma, por exemplo, que tribunais de contas, MP e Poder Judiciário "não se submetem, eles próprios, a qualquer espécie de controle e nem se limitam por restrições fiscais".

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