Tabatinga: a tríplice fronteira da desconfiança

À beira do Solimões, a cidade de onde parte a expedição é fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia

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Por Roberto Almeida
Atualização:

Tabatinga - Depois de 2h30 de voo de Manaus em um avião Fokker 50, despontou Tabatinga na janelinha. À beira do Solimões, a cidade de 40 mil habitantes é de tríplice fronteira, como Foz do Iguaçu.

 

 

 

 

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Nesse caso, para ir ao Peru, é preciso cruzar o rio. Para ir à Colômbia, é só atravessar a rua que a cidade muda de nome – transforma-se em Letícia - e o comércio começa a falar espanhol, com cumbias em altos volumes.

 

 

Ali, na fronteira, um solitário guarda da polícia nacional colombiana faz as vezes de agente fiscalizador e não há presença da polícia brasileira, apesar de ser uma notória rota de entrada de drogas no País.

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A Polícia Federal, no entanto, está firme no aeroporto. No domingo, dia 30, um homem foi preso tentando embarcar com cocaína adesivada ao corpo.

O Ministério Público Federal em Tabatinga sofre com mudanças constantes de seus quadros. Segundo o procurador Juliano Gasperin, há sete meses no cargo, ele está próximo de bater um recorde. Ninguém ficou mais do que ele até hoje em Tabatinga.

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Gasperin diz que não há problema de continuidade. O trabalho segue adiante, e a luta contra quadrilhas que operam na área tem tido sucesso, afirma. Um dos chefes do crime em Tabatinga morreu, o outro está para ser extraditado.

 

Agora, observou o procurador, a cidade ganhou seu primeiro promotor em três anos. E pode melhorar ainda mais. Mas ele não descarta a possibilidade de que membros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) estejam transitando por ali.

 

Tabatinga é riscada, lado a lado, pela Avenida da Amizade. Tem um posto de gasolina e um semáforo. Mas o trânsito de motos compradas a preço de banana na Colômbia é incessante.

 

Arlindo Ferreira é mototaxista. Cobra R$ 2 por uma corrida dentro de Tabatinga. Para ir à Colômbia, cobra R$ 4. Diz que tira R$ 40 por dia no serviço e já construiu seu “tapirizinho”.

 

Casado, tem seis filhos, é mais um dos que tentam ganhar a vida nessa fronteira pobre e distante do resto do Brasil. “Com qualquer R$ 1.000 dá pra tirar moto na Colômbia. Nem precisa comprovar renda”, explicou.

 

A sua moto, porém, foi financiada pela nora que mora em Manaus. E veio de barco, porque Tabatinga não tem estrada.

 

O poder público mal começou a tomar as rédeas da situação. Agora andar de moto sem capacete dá multa, mas é comum ver bebês de colo nos braços dos passageiros.

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O transporte coletivo é feito por parcas kombis que passam pela aldeia ticuna de Umariaçu, a leste da cidade, cruzam o centro de Tabatinga, e levam os passageiros até Letícia.

 

Nos três dias que a reportagem passou na tríplice fronteira, não viu uma abordagem policial sequer. O clima em Tabatinga é de uma tranquilidade tensa. Sorrisos são escassos e a hospitalidade, desconfiada.

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