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Sustentação do senador ruiu com debandada de aliados do PT e PMDB

Pressão popular, trocas na CCJ, desgaste da tropa de choque e sessão de terça ajudaram a selar decisão de Renan

Por Marcelo de Moraes e BRASÍLIA
Atualização:

A sustentação política do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), desmoronou na sessão da última terça-feira, quando ele percebeu que havia perdido o apoio da bancada do PT e de grande parte dos colegas de seu próprio partido, o PMDB. Principais responsáveis pela absolvição do parlamentar no primeiro processo de cassação, no qual ele era acusado de ter contas pessoais pagas por um lobista da construtora Mendes Júnior, petistas e peemedebistas já não suportavam a pressão da opinião pública por causa da permanência de Renan à frente do Senado. "As pessoas botam o dedo no nariz da gente na rua e perguntam se vamos acabar com isso ou não. Tem político que não usa nem o broche de parlamentar na rua para não ser identificado", relatou o senador Magno Malta (PR-ES), amigo pessoal de Renan. "Estamos asfixiados. Ou debelamos essa crise ou ela debela com todos nós." O preço pelo apoio ao chefe do Senado expôs os seus aliados, trazendo à tona denúncias contra os senadores Wellington Salgado (PMDB-MG), Romero Jucá (PMDB-RR) e Ideli Salvatti (PT-SC). Depois de ajudar a salvar seu mandato no primeiro julgamento, a bancada do PT não suportou a pressão - no plenário, Ideli já dizia que não dava mais para "tapar o sol com a peneira". Paulo Paim (PT-RS) concorda: "É inegável que o desconforto aumentou muito nos últimos dias em todas as bancadas." Habitualmente ponderado, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) previu que a saída de Renan era "questão de dias, talvez de horas", tamanho era o mal-estar no Congresso. "Eu costumo correr no Ibirapuera e as pessoas me paravam sempre, dizendo que o Senado precisava tomar uma atitude firme para que o senador Renan deixasse o cargo. Também são centenas de e-mails que nos chegam pedindo que algo seja feito." ASPEREZA Os críticos de Renan também acham que a situação-limite foi na terça-feira. Na sessão, vários senadores se sucederam na tribuna pedindo que ele se licenciasse. Renan discutiu asperamente com o petista Aloizio Mercadante (SP), deixando-o falar sozinho, em um aparte, e com Demóstenes Torres (DEM-GO), de quem cortou a fala. "Não há como negar que a situação piorou demais depois daquela sessão", diz Demóstenes. "Perdeu o apoio da bancada do PT e pelo menos oito dos senadores do PMDB já defendiam publicamente sua saída e outros seguiam pelo mesmo caminho", garante. "E o pior foi a descoberta da história de que um assessor dele estava me espionando e ao senador Marconi Perillo. E não adianta ele negar, porque quem anda aqui sabe que houve tentativa de espionagem." Um dos relatores da primeira representação contra Renan, o senador Renato Casagrande (PSB-ES) lembra que a retirada dos senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE) da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) piorou o clima. Para complicar, foi escolhido o senador Jefferson Péres (PDT-AM), um de seus maiores críticos, para relatar o processo em que o parlamentar é acusado de usar laranjas na compra de duas rádios e um jornal. O último pilar que ajudava a sustentá-lo, o apoio do governo federal, também ruiu. Com a rebelião da oposição e a ameaça concreta à prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), o presidente do Senado acabou virando um problema também para o Planalto. O PRONUNCIAMENTO "Hoje decidi me licenciar da presidência do Senado Federal pelo prazo de 45 dias, a fim de demonstrar de forma cabal e respeitosa à Nação e a todos os ilustres senadores que não precisaria do cargo de presidente do Senado Federal para me defender. Agindo assim, afasto de uma vez por todas o mais recente e injusto pretexto usado para tentar dar corpo à inconsistência das representações enviadas sem qualquer indício ou prova ao Conselho de Ética do Senado Federal. Com este meu gesto, que é unilateral, preservo a harmonia do Senado, deixo claro meu respeito pelos interesses do País e homenageio sem dúvida as altas responsabilidades das funções que exerço, contribuindo decisivamente para evitar a repetição dos constrangimentos ocorridos na sessão de 9 de outubro. Reafirmo que enfrentarei os processos como fiz até agora, à luz do dia, com dignidade, sem subterfúgios. Não lancei mão das prerrogativas de presidente do Senado em meu benefício ou contra quem quer que seja. Minha trincheira de luta sempre foi a inflexível certeza da inocência, a qual estou convicto prevalecerá com a verdade, como aconteceu na minha absolvição. O poder é transitório, enquanto a honra é um bem permanente, que não sacrifico em nome de nada. Resistirei firme na minha defesa, honrando a confiança da minha família, do povo de Alagoas, dos meus amigos, dos meus colegas do Senado Federal e daqueles que, mesmo sem me conhecer, com seu apoio, suas mensagens, suas orações, me deram forças até agora. A estes, certamente não decepcionarei. Aguardarei serenamente que a Justiça e a verdade prevaleçam."

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