No segundo episódio da série de entrevistas Cidades 2020, Fernando Rei, professor de direito ambiental da FAAP, fala de um assunto cada vez mais crucial na agenda dos gestores públicos: os desafios de uma cidade sustentável, num mundo cada vez mais afetado pelas mudanças climáticas, poluição e desastres ambientais. A série é realizada pelo portal Estadão e o Broadcast Político para tratar dos desafios dos municípios em 2020, ano eleitoral.
Para Rei, a sustentabilidade tem de ser uma "pauta transpartido" por se tratar de uma agenda de importância nacional. "Temos em diversos partidos, da centro-esquerda à centro-direita, simpáticos a essa pauta. E é bom que seja assim."
Na sua avaliação, a Agenda 2020-2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) oferece um bom caminho para os gestores seguirem, e comenta que as políticas devem ser de Estado e não de governo, já que a continuidade é fundamental para a obtenção de bons resultados.
Segundo Rei, o primeiro passo para uma cidade ser sustentável é promover o saneamento básico, já que metade da população brasileira hoje não tem coleta de esgoto. "É inadmissível", disse ele, que é diretor da Sociedade Brasileira de Direito Internacional do Meio Ambiente.
Na entrevista, o professor citou bons exemplos de políticas públicas, como o projeto Município Verde-Azul, lançado em 2007 e que estimula cidades de São Paulo a serem mais sustentáveis condicionando o maior repasse de recursos do Estado com o cumprimento de metas. Isso fez com que cada cidade paulista tivesse uma equipe técnica para dar continuidade às ações, independentemente do prefeito.
Além da responsabilidade pública, Rei destacou a necessidade de os cidadãos participarem da construção da agenda da sustentabilidade. "Se não, o prefeito que chega se sente à vontade para criar sua própria agenda. Com uma sociedade diligente, acompanhando, pressionando os vereadores, a coisa é diferente."
Fernando Rei defendeu ainda o consumo sustentável, com a separação do projeto de felicidade do cartão crédito. "A educação do consumo sustentável, de não atrelar o cartão de crédito à felicidade, de antes de toda compra que fizermos, pensarmos: será que eu preciso realmente disso? Essa educação vai permitir, sim, que nós tenhamos uma política a médio prazo mais sustentável na área de resíduos", afirma.