Analisar os próximos passos da trajetória do ministro Sérgio Moro se tornou uma tarefa imposta pela História. O próprio presidente Jair Bolsonaro aguçou a natural curiosidade em torno da carreira do ministro ao sugerir eventual acordo para uma futura indicação ao Supremo Tribunal Federal.
A atual conjuntura política parece ser representativa dos possíveis destinos de Moro. De um lado, manifestações de apoio ao ministro, reforçando o culto a figura de Moro. De outro, perda de popularidade e crescente sinal de perda de força política no interior do Legislativo. Em boa medida, o exercício de futurologia depende de um acerto de contas com essa história, em dupla dimensão jurídica e política.
Minha leitura é que, uma vez mais, o Supremo será o ator-chave em definir o futuro de Moro, diante da manutenção do quadro de polarização política. O leque das opções futuras do ministro diminui. Sua trajetória parece estar cada vez mais associada ás preferências do presidente Bolsonaro. As mensagens tiraram a faculdade do ex-juiz de escrever sua própria história.
Sob o prisma político, a perda de força da agenda personificada no ministro é evidente. Os parlamentares já relutavam em dar prioridade ao seu pacote de medidas para anticorrupção e de combate ao crime organizado. O apoio presidencial ao superministro ficou mais no plano retórico. Salvo novas evidências, o material divulgado parece ser insuficiente para construir uma coalizão favorável ao seu afastamento. A aproximação com o juiz ainda rende dividendos eleitorais, especialmente no campo da centro-direita. De todo modo, Moro deixou de ser o ministro intocável do governo. O presidente ganhou autonomia na sua relação com o ministro e potencial rival eleitoral em futuras eleições.
O status quo politico torna o STF, uma vez mais, o centro protagonista político. A eventual decisão pela falta de imparcialidade no julgamento do ex-presidente Lula deve definir o destino de Moro. O julgamento deve testar se os ministros, de fato, têm “couro” para enfrentar a pressão ao definir o destino do homem que um dia sonhou em ser unanimidade, mas que se tornou mais um capítulo do “Fla x Flu” da política nacional.
* Rafael Cortez – Sócio da Tendências Consultoria e Doutor em Ciência Política pela USP.