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Supremo abre inquérito contra presidente nacional do DEM

Senador José Agripino será investigado por suspeita de ter recebido propina em contrato de serviço de inspeção veicular no RN

Foto do author Beatriz Bulla
Por Beatriz Bulla e
Atualização:

Atualizado às 22h37 Brasília - O Supremo Tribunal Federal decidiu abrir um inquérito contra o presidente do DEM, senador José Agripino (RN), após pedido encaminhado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O parlamentar foi citado na delação premiada de um empresário do Rio Grande do Norte na qual é acusado de ter cobrado propina de R$ 1 milhão para permitir um esquema de corrupção no serviço de inspeção veicular do Estado.

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O caso chegou ao Supremo neste mês e a decisão de abertura de inquérito foi tomada pela relatora do caso, ministra Cármen Lúcia, na sexta-feira. O processo tramita na Corte em segredo de Justiça. O vídeo com a delação do empresário George Olímpio foi revelado em fevereiro pelo Fantástico, da TV Globo.

Segundo o Ministério Público do Rio Grande do Norte, Olímpio montou um esquema que envolveria as principais autoridades locais para aprovar uma lei que criava o sistema de inspeção veicular no Estado. A votação da norma, de acordo com a investigação, teria ocorrido sem obedecer aos trâmites legais. O esquema é investigado pela Operação Sinal Fechado, deflagrada em 2011. Olímpio, embora tenha feito acordo de delação com o Ministério Público, é réu no processo.

Aos promotores, ele afirmou que participavam do esquema a ex-governadora e atual vice-prefeita de Natal, Wilma de Faria (PSB); o filho dela, Lauro Maia; o presidente da Assembleia Legislativa, Ezequiel Ferreira (PMDB); e o ex-governador Iberê Ferreira (PSB). Todos negam envolvimento no caso. Ferreira morreu de câncer em setembro, aos 70 anos.

Senador José Agripinoduranteprotestodo dia 15 de marçocontra o governo Dilma, em Brasília Foto: Arquivo pessoal

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O acerto com Agripino, de acordo com o empresário, teria ocorrido em 2010 em Natal, na cobertura do senador. “A informação que temos é que você deu R$ 5 milhões para a campanha do Iberê”, teria dito Agripino, na época candidato à reeleição na chapa da correligionária Rosalba Ciarlini (DEM), adversária de Ferreira.

Olímpio respondeu que havia doado R$ 1 milhão e prometeu entregar R$ 200 mil imediatamente ao senador do DEM e outros R$ 100 mil na semana seguinte. “Aí ficam faltando R$ 700 mil”, teria dito Agripino. O empresário interpretou o comentário como “chantagem”. “O R$ 1,15 milhão foi dado em troca de manter a inspeção”, alegou Olímpio.

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Tanto Agripino quanto Rosalba foram eleitos nas votações de 2010. No ano seguinte, a então governadora suspendeu o serviço de inspeção veicular.

‘Reposicionamento’. Agripino disse desconhecer a abertura de inquérito no Supremo. “Não fui comunicado de nada e o que eu posso lhe dizer é que se trata de um reposicionamento por parte de alguém que foi a cartório declarar o contrário do que se supõe estar declarando agora. Trata-se de um processo que já foi apreciado na Procuradoria-Geral da República e arquivado. Eu não tenho informação sobre as razões que estariam levando à reabertura desse assunto”, afirmou.

Segundo o parlamentar, o delator teria registrado em cartório em 2012 um documento no qual afirma nunca ter dado dinheiro ao presidente do DEM. Mas, de acordo com os promotores que investigam o caso, o empresário mudou de ideia em 2014, quando, sentindo-se abandonado pelos amigos, procurou o Ministério Público para sugerir a colaboração com a Justiça em troca de benefícios.

Agripino é um dos principais líderes da oposição ao governo e foi coordenador da campanha de Aécio Neves (PSDB) à Presidência, no ano passado. No 15 de março, o senador participou de ato contra a presidente Dilma Rousseff e contra a corrupção na Petrobrás em Brasília.

Ao ser questionado sobre o caso em fevereiro, quando foi divulgado o vídeo da delação premiada, Agripino confirmou ter recebido Olímpio tanto em sua cobertura em Natal quanto em seu apartamento em Brasília e alegou que o empresário é “parente de amigos” de seu pai. O presidente do DEM negou ter cobrado ou recebido propinas do empresário. 

“Ele não me deu R$ 1 milhão coisíssima nenhuma. Eu nunca pedi nenhum dinheiro, nenhum valor, conforme ele próprio declarou em cartório”, disse Agripino na época. “É uma infâmia.”

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