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Suplicy treina para dizer que está nas prévias

Por Agencia Estado
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Animado com o apoio recebido nas ruas, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) - saudado agora como "o pai do Supla" -, tomou duas decisões. A primeira: no 12º Encontro Nacional do PT, que começa na próxima sexta-feira, no Recife, dirá, publicamente, ao presidente de honra do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, que admite ter criado "desconforto" no partido por insistir em disputar uma prévia com ele. Mas esta será apenas a introdução. Depois de prender a atenção da platéia, virá o prato principal: Suplicy anunciará que continua no páreo para seguir o exemplo do próprio Lula, "que nunca desistiu diante das adversidades". O tom do discurso passou pelo crivo do professor de oratória Reinaldo Polito. No último sábado à noite, num elegante sobrado do Ipiranga, o senador treinou duas vezes a seqüência de argumentos, entonação e postura em tempo cronometrado: 10 minutos. Logo no início da aula, acompanhada pela reportagem, ele descreveu o ambiente que espera encontrar no Recife como de "aclamação" à candidatura de Lula. Parecia preocupado. "Se você tem consciência de que será assim, deve começar falando sobre isso", aconselhou Polito. Bom aluno, Suplicy seguiu à risca a recomendação até chegar ao seu verdadeiro objetivo: propor que o encontro referende as inscrições dele, de Lula e do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, à prévia marcada para 3 de março de 2002. Único inscrito até hoje, o senador sabe que Lula não quer isso. Mas, no treinamento do sábado, usou todas as técnicas de comunicação para convencer o interlocutor que, àquela altura, estava a uns 13 quilômetros dali, em São Bernardo do Campo, recém-chegado da viagem à Venezuela. Eram 18h45 quando as luzes da sala de aula se acenderam e começou a filmagem. Como se estivesse diante dos 900 petistas esperados na capital pernambucana, Suplicy começou o discurso cumprimentando os integrantes da mesa e todos os demais "companheiros". Disse que estava ali para ter mais uma conversa com seu "querido amigo Lula" e, olhando para um ponto imaginário, fez um apelo contundente para sua inscrição na prévia. "Aprendi com você mesmo, Lula, que não devemos desistir diante das situações mais adversas", afirmou. "Você ousou criar o Partido dos Trabalhadores e, no movimento sindical, deu exemplos notáveis para que os sindicatos não tenham apenas uma visão corporativista." Suplicy citou várias passagens que marcaram a trajetória de ambos, como a luta por eleições diretas e o movimento pela ética na política, que culminou com o processo de impeachment de Fernando Collor. "Pois bem, Lula, quero seguir seu exemplo de não desistir, mesmo em momentos tão dramáticos, que possam parecer de desconforto", argumentou. A esta altura, Polito fazia sinal de que faltavam apenas dois minutos para o término da exposição. Suplicy ainda teve tempo para falar da importância dos debates entre ele, Lula e Edmilson. Com nove minutos, encerrou o discurso e foi aplaudido. Treinou mais uma vez e ficou satisfeito com o que viu no vídeo. Foi aprovado "com nota dez", na avaliação de Polito. "Houve perfeita harmonia entre gestos, inflexão de voz e mensagem", observou o professor. "Ele deu um puxão de orelha, mas é como se fosse um pai conversando com o filho." Aquele foi um dia de artista para o senador. Seis horas antes, ao fazer uma enquete no Largo 13 de Maio, em Santo Amaro, 49 eleitores responderam que ele deveria disputar prévia com Lula. Apenas um foi contra. "Não sei o que é essa tal de prévia, mas prefiro o senador como candidato", resumiu a vendedora ambulante Valdinéia Andrade. As irmãs adolescentes Juliana e Ediléia Barbosa mal acreditavam que estavam vendo Suplicy, com óculos novos, ao vivo e em cores. "Ai, meu Deus! É o pai do Supla, o pai do gato!", gritou Juliana. "Por que o senhor não põe o Supla de vice?", sugeriu Ediléia.

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