Suíça diz haver mais propinas da Petrobrás em outros países

Para embaixador, esquemas usados na estatal foram "sofisticados"

PUBLICIDADE

Por Jamil Chade
Atualização:

Genebra – O governo suíço afirma que outras praças financeiras receberam valores potencialmente superiores aos que foram depositados nos bancos do país alpino em propinas relacionadas ao esquema de corrupção na Petrobrás. Em um encontro com jornalistas estrangeiros, o responsável pelo Departamento de Direitos Internacional da chancelaria suíça, Valentin Zellweger, também reconheceu que os próprios suíços precisam aprimorar seu sistema financeiro para lidar com dinheiro fruto de origem criminosa. 

PUBLICIDADE

“Sabemos que há mais dinheiro fora daqui”, disse. Segundo ele, outras praças financeiras têm ainda mais dinheiro que a Suíça cuja origem seria o esquema na estatal brasileira. “Mas elas não comunicam”, declarou. No total, US$ 400 milhões em contas relacionadas com os ex-funcionários da entidade estatal foram bloqueados em contas na Suíça. Autoridades brasileiras negociam com os colegas do país europeu a repatriação dos recursos desviados da Petrobrás.

Questionado sobre como os bancos acabaram aceitando esses milhões de dólares de ex-executivos da Petrobrás sem questionamentos, o embaixador insistiu que a estrutura montada foi “sofisticada”. Segundo ele, o dinheiro depositado passou por várias sociedades antes de chegar até as contas na Suíça. Zellweger insistiu que era difícil ver em muitas ocasiões que o dinheiro se referia a pessoas politicamente expostas. 

Mas ele mesmo admitiu que o sistema financeiro suíço precisa “fazer mais” para evitar tais situações. “Não temos um sistema 100% limpo. Mas nosso objetivo é o de minimizar os riscos”, disse. 

Para o embaixador, a Suíça fez prova de transparência ao anunciar a existência de US$ 400 milhões bloqueados nas contas do país. Uma investigação foi aberta em abril de 2014 e, em março de 2015, o Ministério Público do país revelou 300 contas em 30 bancos diferentes com dinheiro fruto da corrupção. Em julho, a Suíça ainda anunciou que estava ampliando a investigação para também tratar da Odebrecht. Do total bloqueado, US$ 120 milhões foram devolvidos aos cofres brasileiros. 

Rastreamento. Nos últimos meses, o Ministério Publico brasileiro tem trabalhado ao lado dos suíços para tentar identificar a origem e o destino do dinheiro que passou pelos bancos do país europeu. Em agosto, uma equipe do MP passou três dias em Lausanne para detectar as relações bancárias e tentar identificar novas contas. 

As reuniões entre procuradores se concentraram nos esforços de se identificar o fluxo de dinheiro da SBM, empresa holandesa que pagou propinas no Brasil para contratos com a Petrobrás. 

Publicidade

Um dos casos que está sendo apurado na Suíça se refere às revelações do ex-gerente da Petrobrás Pedro Barusco na CPI no primeiro semestre sobre um pagamento que teria servido para “reforçar” a campanha eleitoral em 2010 de Dilma Rousseff. Segundo ele, US$ 300 mil teria sido enviado pela SBM Offshore para o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. “Em 2010, foi solicitado à SBM um patrocínio de campanha, mas não foi dado a eles diretamente. Eu recebi e repassei o dinheiro para a campanha presidencial de 2010, em que disputavam José Serra e Dilma Rousseff”, disse. “Foi ao PT, ao João Vaccari", explicou.

Ao Estado, procuradores apontaram que esse de fato havia sido um dos pontos examinados. O que a investigação tenta determinar é se esse suposto pagamento usou também contas na Suíça. 

As reuniões ainda chegaram à constatação de que a investigação sobre a Petrobrás e sobre os pagamentos da SBM será ampliada. Indícios colhidos por meio de comparação de dados bancários e cruzamento de informações revelariam que o número de pessoas beneficiadas por propinas é maior do que o se conhece até agora. 

O embaixador suíço ainda confirmou que os bancos suíços contam com “milhares” de políticos estrangeiros como correntistas. Mas garantiu que as instituições são obrigadas a cobrar a origem dos recursos de cada um desses clientes. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.