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Sucesso pode tirar o fórum de Porto Alegre

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Por Agencia Estado
Atualização:

O sucesso de público e mídia do Fórum Social Mundial, que recebeu muito mais delegados e jornalistas do que o esperado por seus organizadores, fez uma vítima inesperada: a cidade anfitriã. O comitê que organiza o encontro anunciou neste domingo ter chegado ao "consenso" de que a reunião, em suas novas edições, "vai se realizar pelo mundo", segundo um dos seus integrantes, Oded Grajew - ou seja, em outras cidades. Ele explicou a decisão pela necessidade de levar a outras regiões a "efervescência" do fórum. A mudança contraria participantes e lideranças, que esperavam que, à semelhança do Fórum Econômico, que é sempre em Davos, Suíça, a reunião fosse sempre na capital gaúcha, há 12 anos governada pelo PT. O grande afluxo de pessoas e a atenção da mídia mundial atraíram o interesse de organizações não-governamentais e governos para o potencial, inclusive econômico, do Fórum Social Mundial. Desde o início do encontro, os organizadores têm recebido de várias partes do mundo ofertas de sede para o próximo encontro. Uma corrente de intelectuais e organizações não-governamentais favorável a manter a reunião em Porto Alegre acabou derrotada. Uma das cidades cogitadas para ser a próxima sede é São Paulo. Um dos intelectuais que participam das oficinas e debates, o sociólogo Emir Sader, antes da divulgação da decisão do comitê, dissera que "muito provavelmente" a nova reunião do fórum, em 2002, seria em Porto Alegre. Segundo ele, quando o presidente da Attac e diretor do jornal Le Monde Diplomatique, Bernard Cassen, e Grajew debateram o encontro, em fevereiro de 2000, "a idéia original era que fosse sempre" na capital gaúcha. Cassen, na ocasião, de acordo com Sader, dizia que a reunião deveria ser fora da Europa, no Brasil e em Porto Alegre. O sociólogo declarou que o encontro de 2001 foi muito bem organizado, apesar de problemas isolados, que a capital gaúcha tem um "significado forte" para as esquerdas. "Para o próximo fórum, há ofertas da África do Sul, Atenas (Grécia), Cidade do México", revelou. Cassen reafirmou neste domingo a intenção de que o evento continue acontecendo no Brasil. Para ele, pelo menos o segundo ano do Fórum deve ser no País, até que o encontro se fortaleça. Cassen não crê que a grande presença de delegações francesas force a mudança de local do evento. Na abertura do fórum, o presidente da Attac havia dito que um evento adversário a Davos não poderia ser organizado na França, nem mesmo em outro país da Europa. "Precisaria haver uma ruptura, inclusive geográfica", argumentou, para justificar a escolha de Porto Alegre. A idéia de que a capital gaúcha seria a sede permanente do Fórum Social Mundial estava tão arraigada no encontro que foi incorporada até aos discursos de alguns participantes. O candidato derrotado à presidência do México Cuhautémoc Cárdenas foi um dos exemplos. Na noite de sábado, no "Testemunho" que deu ao lado do presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, Cárdenas afirmou que a reedição anual do encontro tinha uma pré-condição: que Porto Alegre e o Rio Grande do Sul continuassem a ter governos "democráticos e progressistas". Neste domingo, Grajew negou que houvesse a intenção de transformar Porto Alegre na sede do fórum. "A idéia era: vamos fazer um e ver o que acontece", contou. "É o primeiro, vamos avaliar. E é muito positivo, mas a gente pretende fazer um evento mundial, e também quer que haja mobilizações em outros lugares." Segundo ele, o comitê organizador não deve definir no encontro atual o local do próximo Fórum Social Mundial. A decisão significa mais uma vitória de setores e organizações não-governamentais que pretendem tirar o encontro de Porto Alegre - algumas defensoras de São Paulo como sede do próximo. "O problema não é arrumar local", afirmou ele. "Há ofertas da Europa, da África, da América Latina, do Brasil. Então, tudo isso precisa ser avaliado." Grajew reconheceu que a organização foi surpreendida pelo sucesso do encontro. "Esperávamos 2.500 delegados, vieram 4 mil", revelou. A avaliação inicial do comitê era de que seriam representados de 50 a 60 países, mas há gente de 122. "Estão girando pelas oficinas de 10 a 15 mil pessoas por dia", contou. A cobertura jornalística também superou as expectativas. A previsão inicial de 400 profissionais de imprensa foi superada pelo número de jornalistas credenciados, cerca de 1.800. Depois do Brasil, o país com mais profissionais de imprensa é a França. O comitê organizador também decidiu que as reuniões do Fórum Social Mundial serão anuais e sempre na mesma época do encontro de Davos. O prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro (PT), confimou ter sabido do interesse de levar o encontro para São Paulo e para outros locais. "Nós colocamos Porto Alegre à disposição", disse. "Mas a organização deve decidir onde acha mais conveniente. Não tenho prevenção contra nenhum lugar." Segundo o prefeito, Porto Alegre "será um contraponto permanente" a Davos. A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), afirmou que não vai, "nem por um minuto, disputar" o encontro. "Tenho uma cidade cheia de problemas para administrar e não posso, neste momento, diluir o meu trabalho e minhas energias em outras áreas", declarou.

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