Sucessão no PT mede poder para 2010

Tamanho da briga com Lula para escolher candidato à Presidência dependerá de quem for comandar a legenda

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Foto do author Vera Rosa
Por Vera Rosa e BRASÍLIA
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A nova correlação de forças que sairá da eleição para o comando do PT, em dezembro, terá reflexo nas disputas municipais de 2008, o primeiro teste para medir o poder petista na sucessão presidencial de 2010. Nesse embate, os principais candidatos não estão sozinhos: mais do que uma briga por cargo e influência na burocracia partidária, o resultado da eleição interna no PT representará o fortalecimento ou a fragilidade de petistas cotados para assumir o espólio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, apóia o candidato da chapa Mensagem ao Partido à presidência do PT, deputado José Eduardo Martins Cardozo, mas age com discrição. Gerente do governo, Dilma é considerada hoje, no Planalto, o nome com maiores chances de carregar a bandeira do lulismo em 2010. Nas fileiras do PT, porém, dirigentes torcem o nariz para a idéia: avaliam que Dilma tem pouco perfil político. O governador da Bahia, Jaques Wagner, também avançará uma posição para a sucessão de Lula se o vencedor da disputa petista for Cardozo. Dissidente do antigo Campo Majoritário, Cardozo conta, ainda, com o aval do ministro da Justiça, Tarso Genro, que diz não estar no páreo para 2010. Na prática, o tamanho da briga entre Lula e o PT em torno da indicação do candidato à sua sucessão vai depender de quem vencer a disputa para o comando do partido, marcada para 2 de dezembro. Lula ficará mais à vontade para domar o PT se o atual presidente da sigla, deputado Ricardo Berzoini (SP), for reeleito. Embora não seja íntimo de Lula - que tentou emplacar sem sucesso a candidatura de seu assessor Marco Aurélio Garcia -, Berzoini integra o antigo Campo Majoritário e tem seguido à risca as determinações do Planalto. Com a chancela do ex-chefe da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu, inimigo de Tarso, o presidente do PT também é um dos que adotam com mais ênfase o discurso de Lula sobre a necessidade de acordo com os os aliados, para o lançamento de um candidato único da base governista. Lula tem dito que o concorrente ao Planalto pode ser do PT, mas não necessariamente. Além do ministro da Defesa, Nélson Jobim (PMDB) e do deputado Ciro Gomes (PSB), ele já admitiu a possibilidade de apoiar até o governador de Minas, Aécio Neves, caso o tucano migre para o PMDB. Na seara do PT, Lula observa tanto a movimentação de Dilma como a de Jaques Wagner, mas acha cedo para dar sua bênção a um nome. FATOR MARTA A ministra do Turismo, Marta Suplicy, ganhará musculatura se o vitorioso na eleição para a presidência do partido for o deputado Jilmar Tatto (SP), da tendência PT de Lutas e de Massas. O grupo de Marta está rachado: uma ala quer que ela concorra à Prefeitura de São Paulo, em 2008, e a outra sonha com vôos mais altos: planeja lançá-la ao governo paulista ou até à Presidência, em 2010. Se Marta não tentar voltar à Prefeitura, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), terá dividendos políticos caso Tatto seja eleito. "Qualquer que seja o vencedor da eleição no PT, nós teremos candidato próprio à Presidência da República", afirmou Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do partido e um dos sete postulantes ao comando petista. "Se Lula defender um nome de fora, isso não passa no PT, porque o poder de influência dele tem limite. Dependendo do desfecho do processo de eleição, esse candidato será escolhido principalmente pelo PT ou muito pouco pelo PT", previu. Na outra ponta, Cardozo suavizou o discurso mais à esquerda de Pomar. "Não podemos ser arrogantes na construção da candidatura presidencial", recomendou, definindo a arrogância como "um passo na direção do isolamento". E avisou: "Qualquer nome terá de ser construído em conjunto com as forças de centro-esquerda." Ao menos nesse quesito, sua retórica é parecida com a de Berzoini. "Tudo será discutido com os partidos aliados, porque fazemos parte de um governo de coalizão", diz o presidente do PT.

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