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STF deve definir hoje limites de reserva pataxó

Decisão servirá de parâmetro para outras ações, entre elas a da homologação da Raposa Serra do Sol (RR)

Por Eugênia Lopes , Mariângela Gallucci e BRASÍLIA
Atualização:

Em uma avant-première do julgamento sobre o tamanho da Reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julga hoje uma ação que definirá os limites da terra indígena pataxó Caramuru-Catarina Paraguaçu, no sul da Bahia. Devem ser fixados parâmetros para as 144 ações que tramitam no STF sobre demarcações. Muito mais polêmica, a decisão sobre o tamanho e a forma da Raposa Serra do Sol começou no mês passado, mas foi interrompida por um pedido de vista do ministro do STF Carlos Alberto Menezes Direito. O relator, ministro Carlos Ayres Britto, já havia dado voto favorável à demarcação contínua. Ministros do STF comentaram posteriormente, em caráter reservado, que o voto era romântico, porque não considerava o risco de os índios decidirem sobre a sua condição política, o que decorreria do direitos dos índios à autodeterminação. Segundo fontes próximas, Ayres Britto poderá pedir vista para segurar o processo ainda mais. A inversão na ordem de julgamentos desagradou a integrantes do governo e advogados que atuam em processos sobre demarcação de terras indígenas. "É um caso com peculiaridades, mas, obviamente, dependendo do tipo de manifestação, pode iluminar o julgamento próximo", disse ontem o presidente do STF, Gilmar Mendes, sobre o caso dos pataxós. Nessa ação, a Fundação Nacional do Índio (Funai) pede a anulação de títulos de posse concedidos pelo governo da Bahia em uma reserva. Segundo o Ministério Público, a área em discussão tem 54 mil hectares delimitados e demarcados como de uso exclusivo da etnia pataxó hã-hã-hãe. A demarcação foi feita com base em uma lei estadual de 1926, mas, de acordo com promotores, as terras foram gradativamente ocupadas e arrendadas a fazendeiros. CONFLITOS Ainda segundo o Ministério Público, a disputa pela área indígena na Bahia tem gerado conflitos. Nos últimos anos, índios estiveram com freqüência em Brasília para falar com autoridades sobre o problema. Em 1997, veio em uma das comitivas o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, que foi incendiado por jovens de classe média e morreu. Eles foram condenados pelo Tribunal do Júri de Brasília. Pataxós desembarcaram ontem no Congresso. Em recesso branco há dois meses, a calmaria da Câmara foi quebrada ontem pela presença de cerca de 200 índios da etnia pataxó hã-hã-hãe. Com cocares, colares, saias de palhas e pintados para a guerra, eles dançaram e cantaram pelos corredores da Câmara, ao som ensurdecedor de chocalhos, na expectativa do julgamento. De nada adiantou: nenhum parlamentar apareceu. "Essa terra é historicamente nossa. É onde nossos antepassados viveram e lutaram", protestou Ilza Rodrigues, cacique do povo pataxó, que foi a Brasília especialmente para assistir ao julgamento do Supremo.

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