SP gastará R$ 1,39 mi para indenizar 61 presos políticos

Valor referente à nora de Zuzu Angel, morta no DOI-Codi, vai para a mãe

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Por Agencia Estado
Atualização:

A Secretaria de Justiça do Estado marcou para o dia 22 uma solenidade em que pagará, a mais 61 presos políticos - ou a seus representantes -, indenizações pelos abusos que sofreram durante o regime militar. Entre os indicados está uma carioca de 91 anos, Cléa Lopes de Moraes, cuja filha, Sônia, morreu torturada nas dependências do DOI-Codi de São Paulo. Sônia era mulher de Stuart Angel Jones, militante do MR-8 e filho da estilista Zuzu Angel, quando ele foi preso e morto, no Rio. Ela desapareceu em 1973 e, a partir de então, Cléa deu uma virada em sua vida e passou a dedicar-se integralmente à luta para localizar o corpo da filha e cobrar satisfações do Estado. Em mais de duas décadas, ela teve um papel decisivo na organização do Grupo Tortura Nunca Mais. Numa interminável busca por papéis e depoimentos, atrapalhada por laudos e informações falsas fornecidos pelas autoridades da época, Cléa precisou pedir a exumação de seis corpos para enfim identificar o da filha, no Cemitério de Perus, em 1981. Em sua campanha, produziu um vídeo, Sonia Morta e Viva, que relata as dificuldades que enfrentou. Mais de 700 beneficiados Somadas, as 61 indenizações ontem anunciadas chegam a R$ 1,39 milhão. A secretaria anuncia para a primeira semana de janeiro outra lista de indenizados, com 54 nomes. ?É o reconhecimento, pela sociedade, a pessoas que lutaram, sofreram e morreram por enfrentar o autoritarismo e sonhar com a democracia, com liberdade e imprensa livre?, diz a secretária de Justiça, Eunice Prudente, que tem dado todo apoio à Comissão Estadual de Ex-Presos Políticos. A maior parte dos beneficiados do atual lote vai receber R$ 22 mil. Até hoje, a comissão pagou R$ 17,73 milhões a 725 pessoas. Outro nome da lista é o da metalúrgica aposentada Élcia Ferreira, hoje com 61 anos. Seu crime, em 1970, quando tinha 25, foi abrigar em casa, por três meses, a mulher e o filho de um suspeito do regime, que ela sequer conhecia. ?Eu não tinha nada a ver com política?, recorda Élcia, que recebe do INSS R$ 1,7 mil por mês. ?Foram me buscar na empresa onde eu trabalhava, me puseram na tal cadeira de dragão, me levaram para os porões do Dops, depois a Oban. Fiquei de um lado para outro durante dez dias, até me soltarem.? Na volta para casa, ela perdeu o emprego e foi expulsa de um curso de madureza.

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