''Sofrimento persiste até hoje para todos nós'', diz irmão de desaparecida

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Por Redação
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A dramática busca do corpo da guerrilheira Isis Dias de Oliveira, da Aliança Libertadora Nacional (ALN), desaparecida em 1972, deixou sequelas profundas na família. "O sofrimento persiste até hoje para todos nós", afirmou Dimas de Oliveira, o irmão mais velho. O pai, Edmundo Dias de Oliveira, morreu em 1987 de complicações cardíacas, agravadas com o sumiço da filha. Autora de várias cartas localizadas pelo Estado, a mãe, Felícia Mardini de Oliveira, de 92 anos, sofre do mal de Alzheimer em estágio avançado. Ela se relaciona com extrema dificuldade e vive recolhida em sua residência, no bairro dos Jardins, em São Paulo, sob cuidados especiais. Até alguns anos atrás, ela vinha pondo no papel os fatos e documentos relacionados à busca da filha para escrever um livro, mas interrompeu a tarefa por causa da doença. Convencida de que Isis foi assassinada nos porões da ditadura, Felícia, nos momentos de lucidez, comenta com os filhos que seu último desejo, para morrer em paz, é poder enterrar os restos da filha. "Essa história precisa ter um fim", cobra Dimas, emocionado. "Saber o que aconteceu faz uma grande diferença e, quem sabe, pode até nos trazer paz de espírito", emenda o irmão mais novo, José Carlos. "A morte, propriamente, já está absorvida pela família, o que nos tortura é a dúvida sobre quando, onde e a forma como aconteceu." CHOQUE Dimas contou que os pais são de formação conservadora e tiveram um choque quando souberam da militância da filha na extrema esquerda, mas acabaram aceitando o fato. "Mesmo relutando, eles respeitaram a opção da filha de lutar por uma causa idealista." Acusada de participação em algumas ações da ALN, como assaltos a bancos e trocas de tiros com policiais, com mortes, Isis era uma das guerrilheiras mais procuradas pela repressão. Baleada e capturada, ela foi torturada e morta, conforme notícias coletadas pela família. A dor da perda, segundo Dimas, foi em parte amenizada com as homenagens que a esquerda e as organizações civis, como a OAB, têm prestado à ex-militante, hoje nome de rua e praça em São Paulo. "A solidariedade fez minha mãe entender que esse assunto não é dela e sua dor comove a todos, porque a luta da nossa irmã era justa", enfatizou. "Ela foi uma idealista e é reconhecida por isso", acrescentou José Carlos.

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