Sócio da Deutschebras nega contratos fictícios com Andrade Gutierrez e empresa de ex-Eletronuclear

Empresário confirmou, porém, que dinheiro recebido pela empreiteira como pagamento a serviços prestados foi destinado a quitar dívidas antigas com ex-presidente da Eletronuclear

Por Idiana Tomazelli
Atualização:

Rio – O empresário Geraldo Toledo Arruda Junior, sócio da Deutschebras Comercial e Engenharia, negou nesta quarta-feira, 27, que a empresa tenha firmado contratos fictícios para repassar dinheiro da Andrade Gutierrez para o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear investigado por recebimento de propina nas obras da usina nuclear de Angra 3. Em depoimento à Justiça, Arruda Junior alegou que prestou serviços para a empreiteira e usou o dinheiro para quitar dívidas antigas com Othon, que fora seu sócio na Deutschebras entre 1997 e 2000.

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Segundo o executivo, mesmo depois de sua saída, Othon continuava a receber comissões pelos contratos que ele havia conquistado para a Deutschebras. Esses pagamentos ocorreram entre 2003 e 2007 por meio da Aratec Engenharia, empresa indicada pelo almirante ainda em 2001 e da qual ele e sua filha, Ana Cristina Toniolo, são sócios.

“Esses pagamentos não correspondiam a tudo que a gente devia a ele, sempre tivemos dificuldades financeiras. Parcelávamos pagamentos, até que paramos em 2007 e restou um saldo a pagar”, contou Arruda Junior, sem precisar valores.

Em 2014, um ano “muito bom” para a Deutschebras devido ao volume mais vultoso de contratos fechados, a empresa conseguiu quitar sua dívida com Othon. O valor repassado à Aratec foi de R$ 252,3 mil, de acordo com o Ministério Público Federal (MPF).

Dias antes, a Deutschebras havia recebido R$ 330 mil da Andrade Gutierrez. Para o MPF, tratava-se de um contrato de fachada. Mas Arruda Junior assegurou, em audiência na 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, que prestou o serviço pelo qual foi pago.

“Era um projeto de sistemas de segurança, e foi isso que nós fizemos. A negociação deu certo, chegamos a um valor, entregamos e fomos pagos por isso”, disse. A Detschebras não executou as instalações, apenas o projeto, mas o executivo afirmou tratar-se de algo comum na área. “Nenhum contrato da Deutschebras teve natureza fictícia. Nenhum teve escopo estendido ou valor ampliado”, disse.

Arruda Junior reconheceu, porém, que a documentação sobre o pagamento da Deutschebras para a Aratec continha equívocos. “O que está escrito é serviço de engenharia... isso foi um erro nosso, se houver alguma penalidade eu realmente assumo. Mas achamos que ficaria muito ruim a Aratec emitir uma nota de comissão de vendas. Ficamos com medo, a Lava Jato já existia”, afirmou.

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“O fato de o pagamento da Andrade Gutierrez e da Aratec (terem ocorrido com dias de diferença) não têm nenhuma outra justificativa senão fluxo de caixa. Não foi só da Andrade que nós recebemos naquele período. Recebemos de vários outros contratos, o que possibilitou o pagamento”, acrescentou o executivo.

O empresário também negou que tenha obtido favorecimento em processos de seleção para trabalhos na Eletronuclear. “Todos (os contratos) foram vencidos por pregões, processos de concorrência.”

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