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Sobrevivendo à base de soro caseiro

Crianças convivem com más condições em favelas

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Por Roberto Almeida e SÃO PAULO
Atualização:

Se Denise dos Santos chora, é porque a vida ela diz que "só vai levando". Para a dona de casa, cada avanço parece que vem seguido de dois retrocessos - sensação comum entre os moradores da favela Jardim Floresta, na zona sul de São Paulo. O esgoto foi canalizado, as vielas receberam pavimento, mas as benfeitorias, que continuam sob a lei do tráfico, agora são palco para um surto de diarréia entre crianças. A causa para o problema, que incomoda moradores há um mês, ainda não foi descoberta. Não se sabe se é a água, ou se é a comida, mas a filha de Denise, S., de 10 anos, desmaiou duas vezes no banheiro com febre e fortes dores de barriga. Foi levada ao posto de saúde para fazer exames, e hoje aguarda os resultados. Enquanto isso, soro caseiro. A mãe, esperançosa, até esboça um sorriso. "Se Deus quiser, vai ficar tudo bem", diz, olhando para a filha. Ela espera o melhor porque Simone Pereira, a poucos metros dali, ri à toa. Seu filho mais novo, J., de apenas 4 anos, também está passando mal, mas desta vez saiu do banho apressado, brincando mesmo molhado, escapando das mãos de sua avó, que queria enrolá-lo na toalha. Ainda assim, soro caseiro. Mais crianças com problemas de saúde vão aparecendo. Outras quatro, em 15 minutos de caminhada. Na creche que atende a favela, administrada pela ONG Reconciliação, o panorama é o mesmo: são duas reclamações por semana, com média subindo desde julho, segundo a enfermeira Cássia Tomé. Ela aguarda uma análise da água que abastece a região. A favela é parte da Vila São José, à beira da Avenida Teotônio Vilela, área de manancial. Um pequeno ponto da região da Capela do Socorro, que em 2007 foi líder em mortalidade infantil. Segundo dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), divulgados pelo Movimento Nossa São Paulo, a cada mil nascimentos, 17 morrem antes de completar 1 ano - três vezes mais em comparação a um nascimento em Pinheiros, na zona oeste. Os filhos de Denise e Simone sobrevivem, assim como as crianças do outro lado da avenida, na Favela da Minhoca. Ali, canos desembocam em um córrego, que segundo moradores está infestado de ratos. Tudo a um quilômetro da Represa Guarapiranga, que abastece parte da cidade.

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