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Sob ataques, DEM tenta se ‘desligar’ do Centrão

De olho nas eleições de 2020, partido vai usar convenção nacional para defender agenda econômica e fugir de ligação com o grupo, alvo de protestos no domingo

Foto do author Vera Rosa
Por Vera Rosa
Atualização:

BRASÍLIA - O DEM iniciou uma ofensiva para deixar de ser rotulado como Centrão. A estratégia do partido, que fará nesta quinta-feira, 30, uma convenção nacional, foi montada para reagir ao desgaste cada vez maior da imagem de fisiologismo grudada no Centrão desde a época em que o então deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ), hoje preso, comandava o bloco na Câmara.

Sob o mote “O Brasil não pode parar”, a convenção do DEM, em Brasília, defenderá a agenda econômica com foco nas reformas da Previdência e tributária, mas, nos discursos, dirigentes do partido manterão uma distância regulamentar do Centrão. A campanha para “desligar” a sigla do grupo também terá destaque nas redes sociais.

Visto como articulador político do Centrão, Rodrigo Maia foi alvo de ataques nas manifestações de domingo Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

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Classificado pelo presidente Jair Bolsonaro como “velha política”, o Centrão foi alvo, no domingo, das manifestações de rua em defesa do governo. O bloco informal reúne partidos como DEM, PP, PL (ex-PR), PRB, MDB e Solidariedade e é formado por cerca de 230 dos 513 deputados.

O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), é visto como articulador político do grupo, que já impôs uma série de derrotas ao Palácio do Planalto, como a retirada do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) das mãos do ministro da Justiça, Sérgio Moro, e a aprovação do Orçamento impositivo.

“O Democratas nunca será Centrão”, disse o presidente do DEM, ACM Neto, logo após as mobilizações, há quatro dias, dando a senha para a reação do partido. Prefeito de Salvador, ACM Neto saiu em defesa de Maia, que foi criticado nas ruas. No Rio, manifestantes carregaram até mesmo um boneco pixuleco com o rosto do deputado.

“Fiquei triste com os ataques a Maia. Houve exageros nas críticas”, afirmou ACM Neto, que será reeleito nesta quinta para um mandato de mais três anos na presidência do DEM.

TV ESTADÃO - Eldorado Expresso

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Eleições

Com três ministérios no governo (Casa Civil, Saúde e Agricultura) e o comando da Câmara e do Senado, o DEM tem pesquisas mostrando que, quando a sigla é vinculada ao Centrão, perde apoio. O desgaste preocupa a cúpula do DEM em um ano pré-eleitoral. Em 2020, o partido quer apresentar candidatos às prefeituras das principais capitais e, dois anos depois, ACM deve concorrer ao governo da Bahia. Atualmente, o DEM administra Goiás e Mato Grosso.

“Quem quebrou o Centrão fomos nós, mas isso não é dito. E agora Kassab não é Centrão e eu sou?”, perguntou o líder do DEM na Câmara, Elmar Nascimento (BA), em referência ao ex-ministro Gilberto Kassab, presidente do PSD, partido que foi formado a partir de uma dissidência do DEM. “Não dá para aceitar isso porque é injusto”, completou Elmar.

Na tentativa de se desvincular do Centrão, dirigentes do DEM lembram que, em julho de 2016, após Cunha renunciar à presidência da Câmara – alvejado pela Lava Lato –, Maia venceu o então deputado Rogério Rosso, do PSD de Kassab, na disputa pelo comando da Casa. À época, a vitória de Maia foi considerada uma derrota do Centrão e de Cunha, que apoiavam Rosso.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

“Somos o partido moderador, que tem se alinhado com o governo na agenda econômica, mas não na pauta de costumes”, observou o deputado Efraim Filho (DEM-PB). “Então, não vamos deixar de apoiar propostas do governo, se tivermos identidade com elas, porque o Centrão é contra, e vice-versa. Não temos alinhamento automático.”

Apesar de ocupar três ministérios na equipe de Bolsonaro, o DEM não integra a base aliada do Planalto, sob o argumento de que tem “autonomia e independência”. A cúpula do partido alega, ainda, que os ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Luiz Mandetta (Saúde) e Tereza Cristina (Agricultura), embora filiados, são da “cota pessoal” de Bolsonaro.

O incômodo com o rótulo “Centrão” aumenta à medida que o “bombardeio” nas redes é ampliado. Nos bastidores, deputados têm certeza de que essas críticas são puxadas pelo presidente e por seu filho “02”, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ).

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O grupo que dá as cartas do poder na Câmara costuma ser associado, desde a era Cunha, a práticas que ficaram conhecidas como “toma lá, dá cá”. “Não existe Centrão. Isso é uma invenção sem sentido”, afirmou o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), líder da Maioria.

Veto

A direção de jornalismo da Câmara proibiu, nesta quarta-feira, 29, o uso do termo “Centrão” nos meios oficiais de comunicação da Casa, como rádio, TV, agência e redes sociais, sob a alegação de que a palavra é usada “pejorativamente para designar alguns partidos que poderiam ou não entrar na base do governo”.

Um e-mail enviado aos profissionais afirma que o “rótulo” é uma “abstração” porque o grupo não existe formalmente como bloco de atuação na Câmara. O Estado apurou que Maia não foi consultado sobre a proibição antes da distribuição da circular. / COLABOROU RENATO ONOFRE

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