Skaf desconversa sobre 2010, mas já fala como candidato

Presidente da Fiesp sinaliza que deixará comando da entidade em março, para se dedicas às eleições

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Por Anne Warth e da Agência Estado
Atualização:

Recém filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, desconversa ao falar sobre sua provável candidatura ao governo paulista em 2010, mas sinaliza que deixará a entidade que o projetou nacionalmente até março. Além disso, o empresário já tem pronto o discurso que pretende usar para responder a seus adversários durante a campanha eleitoral. "Não há nenhum demérito em ser uma liderança nacional", rebate ele, em referência às críticas de integrantes do PT sobre seu papel na derrubada da CPMF no fim de 2007, durante entrevista concedida à Agência Estado.

 

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"Foi citada minha liderança e coordenação para pôr fim à CPMF no fim de 2007. Eu faria tudo novamente. Com muita honra, liderei um movimento que conseguiu mobilizar 1,5 milhão de assinaturas. Foi a vontade da sociedade brasileira, demonstrada e manifestada no Senado, ao não renovar aquilo que a Constituição determinava que deveria terminar em dezembro daquele ano. Agradeço por ser reconhecido como uma liderança nacional pelas pessoas. Não há nenhum demérito nisso", afirma.

 

À frente da Fiesp há cinco anos, Skaf insiste que sua filiação não mudou em nada sua rotina como representante da indústria paulista. "Estou na vida pública há mais de dez anos", diz ele, que presidiu a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) de 1998 até 2004.

 

Sem nenhum mandato na área pública no currículo, sua agenda pode causar inveja a qualquer político. Nos últimos anos, recebeu no escritório da Avenida Paulista os presidentes Álvaro Uribe (Colômbia), Cristina Kirchner (Argentina), Michelle Bachelet (Chile), Pratibha Patil (Índia), o então primeiro-ministro da Itália Romano Prodi, o diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, a representante comercial dos Estados Unidos, Susan Schwab, e o comissário da União Europeia, Peter Mandelson.

 

Nos próximos dias, Skaf vai receber na sede da Fiesp o ex-vice-presidente dos EUA Al Gore, um dos maiores líderes mundiais na área ambiental, e o presidente de Israel, Shimon Peres. Como todo empresário, ele milita pela redução da taxa básica de juros, reclama do câmbio desfavorável e pleiteia a redução da carga tributária. "Isso tudo é agenda do presidente da Fiesp. Vou continuar exercendo minha função neste ano", garante, já dando os primeiros sinais de que deixará a entidade início de 2010.

 

"No ano que vem, caso haja um fato novo, uma decisão do partido e a oportunidade de uma candidatura ao governo do Estado de São Paulo, vou pensar no momento e, se eu aceitar, tenho de me licenciar seis meses antes da eleições. Então isso é uma decisão para março", admite. Como todo político, já aprendeu a dizer a célebre frase segundo a qual "o futuro a Deus pertence". O desafio será converter o prestígio como líder empresarial em votos e apoio político para dar viabilidade a sua eventual candidatura. As pesquisas do Instituto DataFolha que incluíram o nome de Skaf, em março, maio e agosto, apontaram um porcentual de intenção de votos de 1%. É a mesma fatia obtida por Ivan Valente (PSOL), Campos Machado (PTB) e Fernando Haddad (PT).

 

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Sem espaço

 

Depois de meses de indefinição a respeito do partido a que se filiaria, Skaf optou pelo PSB. Seu desejo, comentam dirigentes partidários, era o de se filiar ao PMDB, mas o presidente do diretório paulista da legenda, Orestes Quércia, já havia se comprometido a apoiar o candidato que o PSDB escolhesse para a disputa pelo governo do Estado em 2010 e não garantiu o espaço que Skaf queria. Foi quando o PSB lhe acenou com a oferta para concorrer ao governo paulista e ao cargo majoritário que ele almejava.

 

"O PSB é um bom partido e me deu um bom espaço. Era chegado o momento de alavancar a cidadania. Sou um democrata, quero uma democracia forte. Não há democracia sem política, não há política sem políticos, não há políticos sem partidos políticos. Reclamamos muito dos políticos, mas em vez de reclamar, temos de oxigenar os partidos políticos, fortalecer a democracia, e o caminho para isso é a filiação partidária. Todas as pessoas deveriam se filiar", declara Skaf.

 

"Se tivermos milhões de brasileiros se filiando a partidos políticos, não vamos mais ter partidos políticos com dono nem partidos políticos pequenos. Teremos o fortalecimento dos partidos, da discussão, das reivindicações, das exigências. A sociedade vai participar mais."

 

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Skaf não vê conflito na filiação de um dos maiores representantes da indústria brasileira, presidente da entidade que inclui 132 sindicatos patronais e 150 mil empresas, a um partido que se identifica como esquerdista, que tem o socialismo em seu nome e que defende iniciativas favoráveis aos trabalhadores. Mas dias depois de sua filiação, dois filiados do PSB entraram com recurso contra a entrada de Skaf no partido, apresentando justamente essas contradições. Skaf diz não ter se abalado. "Essas observações não me chateiam, absolutamente. Isso é democrático, não há nenhum problema. O PSB é um partido que tem milhares de filiados. Houve apenas dois pedidos", afirma.

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Aos 54 anos, Skaf parece não se abalar com os que resistem a seu nome. Ao assumir a Fiesp, já começou o mandato com uma polêmica. Em uma das eleições mais acirradas dos últimos anos, ele ganhou a Fiesp, que reúne os sindicatos patronais de maior peso político e administra o dinheiro do Serviço Social da Indústria (Sesi) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), mas perdeu a direção do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), entidade com mais força no interior do Estado, para o candidato da situação, Cláudio Vaz, apoiado pelo então presidente da Federação, Horácio Lafer Piva. Foi a primeira vez na história da entidade que essa cisão ocorreu.

 

Próximo dos presidentes da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, e da Coteminas, Josué Gomes da Silva - filho do vice-presidente da República, José Alencar -, Skaf venceu aos poucos as resistências que existiam ao seu nome e, em 2007, disputou as eleições sem qualquer oposição como candidato único para a Fiesp e o Ciesp. O mandato termina excepcionalmente em 2011. Tradicionalmente, os mandatos na presidência da Fiesp duram apenas três anos, mas uma mudança no estatuto da entidade permitiu que a diretoria atual permanecesse quatro anos no cargo. Sem a alteração, novas eleições deveriam ser convocadas já em 2010, o que foi encarado por alguns de seus adversários como uma manobra de Skaf para se manter em evidência durante o ano eleitoral.

 

Ex-presidente do Sindicato da Indústria Têxtil do Estado de São Paulo (Sinditêxtil-SP) e da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Skaf é filho de imigrantes libaneses. O pai, Antonie, fundou a Skaf Indústria Têxtil, em Pindamonhangaba. O caçula tinha três irmãs e se emancipou aos 18 anos para cuidar da empresa, que hoje já não existe mais. Atualmente ele faz parte do Conselho de Administração da Paramount Têxtil, grupo com 116 anos e três mil funcionários nas fábricas em Santa Isabel (SP), Sapucaia do Sul (RS) e Canela (RS).

 

Casado com Luzia, pai de cinco filhos homens e avô de uma neta, ele torce pelo São Paulo e mora nos Jardins. Paulistano, Skaf foi criado na Vila Mariana, estudou no Colégio Santo Américo, começou a cursar Administração na Universidade Presbiteriana Mackenzie, mas não concluiu o curso. Costuma dizer que é "formado em trabalho", pois começou a trabalhar aos 14 anos. Na infância, foi escoteiro. Pratica esportes diariamente. Gosta de nadar, andar de bicicleta e adora cavalos. Passa os fins de semana na chácara da família em Pindamonhangaba, onde tem negócios até hoje e se dedica à equitação.

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