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Sitiado, Sarney ouve apelo para que se licencie do cargo

Senadores propuseram afastamento de 60 dias, até que sejam apuradas denúncias de irregularidades

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Por Eugênia Lopes e Christiane Samarco
Atualização:

Senadores da base aliada e de oposição criticaram ontem abertamente o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), e propuseram o seu afastamento do cargo, entre outras cobranças. Da tribuna, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) pediu que Sarney tire licença da presidência por 60 dias, até que sejam apuradas as denúncias de irregularidades nos 650 atos secretos editados nos últimos 14 anos. O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), concordou com Cristovam, pediu a prisão do ex-diretor-geral Agaciel Maia e disse que há muitos senadores por trás dos atos secretos do Senado. Com um discurso duro, Virgílio afirmou que é mais importante "a instituição Senado Federal sobreviver à crise" do que Sarney "sobreviver na presidência". Sarney se defendeu dizendo que está adotando as medidas administrativas para punir os culpados. "Cada um tem seu temperamento. Não fico jogando fogos de artifício. Ninguém vai acobertar ninguém", afirmou. Gaguejando, Sarney ainda passou pelo constrangimento de ser obrigado a dar explicações sobre a reportagem do Estado segundo a qual o mordomo de sua filha e governadora do Maranhão, Roseana Sarney, é funcionário de carreira do Senado e recebe R$ 12 mil mensais. "É uma inverdade. O Senado nunca pagou nenhum mordomo, a senadora não mora em Brasília e a casa aqui não está sendo habitada por ela", disse. Segundo Sarney, Amaury Machado "é chofer do Senado há 25 anos". Sarney pediu um voto de confiança da Casa e garantiu que "os defeitos e a vulnerabilidade imensa" do Senado serão corrigidos. "O problema é que a velocidade com que o presidente Sarney está fazendo as coisas é lenta e menor do que a exigida pela opinião pública", disse Cristovam Buarque. Quando ele subiu à tribuna para sugerir o afastamento de Sarney, o plenário da Casa estava praticamente vazio e o próprio presidente já havia passado o comando da sessão ao senador Mão Santa (PMDB-PI). Ao pedir as cabeças do ex-diretores Agaciel Maia e João Carlos Zoghbi e do atual diretor-geral, Alexandre Gazineo, Virgílio ressaltou que Sarney precisa se livrar "dessa camarilha, dessa quadrilha" para se manter no cargo. E sugeriu que os senadores envolvidos com os "bandidos" também sejam responsabilizados e punidos. "Vamos ter de cortar na carne e, se necessário, decepar mandatos de senadores e funcionários." Ao longo de mais de duas horas de discurso e apartes, Virgílio teve o apoio da maioria dos senadores presentes. Até o líder do DEM, José Agripino Maia (RN), aliado de Sarney, afirmou que o Senado "está vivendo um festival de suspeitas e suspeições" e fixou prazo para que a crise seja resolvida: "Isso tem de acabar nesta semana". Virgílio decidiu ir à tribuna do Senado para avisar das suspeitas de que estaria sendo "chantageado" pelo grupo de Agaciel Maia. Segundo o tucano, o ex-diretor teria espalhado informações de que ele teria empregado o professor de jiu-jitsu em seu gabinete em Manaus, além de ter usado recursos do Senado para custear viagem particular à França e ter pago tratamento de sua mãe com dinheiro do Senado. Depois de rebater as denúncias, Virgílio citou outros senadores que também estariam sendo vitimas de chantagem, entre os quais Pedro Simon (PMDB-RS). "A grande colaboração que esta Mesa pode dar é o afastamento coletivo", sugeriu Simon, que negou a chantagem. Papaléo Paes (PSDB-AP) e Mão Santa foram os únicos que defenderam Sarney.

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