Site reúne, organiza e mapeia denúncias de crimes eleitorais feitas por internautas

Plataforma do Eleitor 2010 é baseada em modelo desenvolvido na crise política do Quênia

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Por Redação
Atualização:

SÃO PAULO - A web como observatório político, a partir da ótica do eleitor. É com esse objetivo que o site Eleitor 2010 surgiu. E é amparado nos princípios fundamentais da internet, colaboração e compartilhamento, que ele vem sendo construído pelos próprios internautas.

 

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Basicamente, o Eleitor 2010 reúne e organiza denúncias de crimes eleitorais feitas por usuários comuns. "Nas eleições passadas, muitos usavam o Orkut para relatar irregularidades, mas faltava uma página que organizasse tudo aquilo", conta Paula Góes. Jornalista que hoje mora em Londres, onde trabalha para a rede de mídia cidadã Global Voices Online, ela é fundadora do projeto.

 

Paula trabalhava na TV Gazeta em Alagoas e produzia um quadro que investigava denúncias de telespectadores, ainda nas eleições de 2006. "Recebíamos uma alto número de denúncias e não dávamos conta de apurar tudo nem tínhamos espaço para fazê-lo", lembra. Foi então que surgiu a ideia de criar uma plataforma que pudesse dar vazão àquela demanda toda.

 

E a resposta veio do Quênia. Foi naquele país que foi criada a plataforma 'open source' Ushahidi, que serve ao Eleitor 2010. Ushahidi quer dizer testemunho em Swahili. É o que este software livre faz: agrega testemunhos de internautas. A plataforma foi criado após os conflitos nas eleições de 2007 no Quênia, quando observadores internacionais e perseguidos políticos foram expulsos do país. Através da rede, jornalistas e cidadãos mobilizados enviavam relatos de conflitos que pipocavam no Quênia no início de 2008, e todo aquele material era compilado e mapeado no site.

 

Segundo Paula, a plataforma foi tão bem-sucedida que foi utilizada em outras situações de crise pelo mundo em que a comunicação ficou truncada: terremoto no Chile no início deste ano, terremoto em Honduras, em 2009, por exemplo. Mas o Ushahidi também já foi utilizado como observatório eleitoral em outros países, como Moçambique, México, Índia e Bolívia.

 

Mobilização online. Contando com a colaboração do cofundador Diego Casaes, e a ajuda de outros voluntários pelo Brasil, Paula levou então o Eleitor 2010 à rede. Sem qualquer patrocínio, já conta com 317 relatos de abusos enviados por eleitores, até esta segunda-feira, 13. As denúncias vão desde envio de e-mails spam por parte dos candidatos, até uso indevido de lista do Prouni para divulgação de campanha.

 

Para serem publicadas, as denúncias devem atender aos critérios estabelecidos pelo site e, em muitos casos, são verificadas pelos voluntários que gerem a página. Segundo Paula e Diego, o objetivo é que órgãos públicos e a imprensa aproveitem também o material reunido no site para aprofundar investigações.

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"Esperamos que esse site vá subsidiar ações maiores no futuro. A gente sabe que a ação na web não muda as coisas ainda, mas a ideia é criar uma cultura política na web também", afirma Diego, que conheceu Paula via Twitter - os dois só se conheceram pessoalmente muito depois de iniciarem parceria em torno da movimentação cidadã na web.

 

E, se depender de Paula, não vai faltar otimismo para fazer vibrar os fios que tecem a rede da web em prol da manifestação e participação política ativa: "Depois da [Lei da] Ficha Limpa, tivemos uma prova de que juntos podemos nos mobilizar e mudar esse País".

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