O governo vai ter que fazer uma nova proposta na reunião marcada para esta terça-feira com as centrais sindicais para resolver o pagamento do expurgo da correção monetária devida ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Caso contrário corre o risco de ver os trabalhadores abandonarem as negociações e partirem para uma ação de mobilização conjunta, que terá como objetivo o incentivo para o ingresso maciço de ações na Justiça e o desgaste político do presidente Fernando Henrique Cardoso. "Chegamos ao limite", desabafou um assessor da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Ele disse que as três centrais (CUT, Força Sindical e Confederação Geral dos Trabalhadores) prepararam uma proposta única e esperam do governo uma resposta concreta. "Chega de enrolação", disse. Os presidentes das três centrais também não concordam com a posição da Social Democracia sindical (SDS). O presidente da SDS, Enilson Simão de Moura, é o único que concorda com a posição defendida pelo governo, de que o dinheiro para pagar a conta não tem que sair do Tesouro Nacional. "A solução é a privatização do FGTS", disse Enilson de Moura, mais conhecido como Alemão. Ele defende que o FGTS tenha uma personalidade jurídica própria, possa emitir papéis e ter um rendimento compatível com as taxas de mercado. Com isso ele acredita que o FGTS terá condições de gerar os recursos necessários para o pagamento do expurgo. Se o governo quiser usar os recursos do FGTS para fazer política social até pode, mas terá de arcar com o subsídio", argumentou Alemão. O presidente da SDS não acha justo que o trabalhador banque a política social do governo, que é feita com o dinheiro do FGTS mediante os empréstimos para habitação popular e saneamento. Assessores do ministro Francisco Dornelles nas negociações acreditam que ele tem um trunfo para usar na hora certa. O governo não vai colocar dinheiro no FGTS, mas pode muito bem concordar em remunerar melhor os papéis. Um exemplo disso são os créditos que o FGTS possui junto ao Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS), que rendem apenas 3,12% ao ano. O governo poderia concordar em dar a esses papéis rentabilidade de mercado pela taxa Selic ou disponibilizar para o FGTS algum porcentual de ações de boas empresas no mercado, como por exemplo Furnas, já inserida no programa de privatização. A SDS também defende que o debate sobre a questão do FGTS saia na mesa das negociações isoladas e vá para o âmbito do Conselho Curador do Fundo. Daí a proposta para que as negociações tenham lugar numa reunião extraordinária do Conselho Curador, a ser marcada especificamente com esse objetivo. O ponto em comum entre as quatro representações de trabalhadores é que a SDS também discorda das propostas apresentadas até agora pelo ministro do Trabalho, Francisco Dornelles. "Todas elas significam confisco ou mais tributos", afirmou Alemão.