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Simon acusa governo de barganhar permanência de Renan

'Eles estão dispostos a tudo', diz o senador do PMDB, mesmo partido a que pertence o presidente do Senado

Por Eduardo Kattah
Atualização:

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) exortou nesta segunda-feira, 10,os colegas de Senado para que se comportem como juízes durante a votação da cassação do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), marcada para esta quarta. Simon, porém, acusou o governo de barganhar pela permanência do aliado, principalmente porque tem interesse na aprovação da renovação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Veja também: Veja a cronologia do caso Renan Íntregra do relatório que pede a cassação de Renan  Entenda as três frentes de investigação contra Renan  Ele chegou a citar o processo que levou à aprovação da emenda da reeleição durante o primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quando surgiram denúncias de compra de votos.  "Eu não sei o que vai acontecer nessa eleição, mas eles estão dispostos a tudo", afirmou o senador gaúcho, após um almoço com empresários mineiros na sede da Federação das Indústrias do Estado (Fiemg). "Essas pressões que existem, não quer dizer que os parlamentares vão se dobrar. Mas se dobrarem, vou dizer que, lamentavelmente, não foi de graça". Simon avaliou que a renovação da CPMF se tornou uma "questão de vida e morte" para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "E, coincidentemente ou não, esse projeto deve estar saindo da Câmara e chega ao Senado para esses dias". O peemedebista afirmou também que o fato de Lula estar viajando pelos países nórdicos não o isenta de participação da operação para salvar o presidente do Senado. Ele observou que é de amplo conhecimento no Congresso que o ministro da Articulação Política, Walfrido dos Mares Guia, "está participando abertamente para conduzir a maioria". "Código penal"  Renan será julgado pela acusação de que teve despesas pessoais pagas por um lobista da construtora Mendes Júnior. Para que a perda do mandato seja aprovada, são necessários pelo menos 41 dos 81 votos. Para Simon, nesse julgamento o termo "traição" não se aplica. "É o código penal. O cara tem culpa ou não tem culpa. É uma questão de consciência. Se formos analisar como tem de ser, o Congresso Nacional se transforma num tribunal, onde os senadores não são senadores, são ministros, são juízes. E o voto tem de estar não de acordo com o seu partido, nem se é governo ou oposição, mas de acordo com sua consciência". Ele recordou episódios em que o Senado foi "firme", como durante a votação que levou à cassação dos direitos políticos do ex-presidente Fernando Collor de Mello e o processo dos anões do Orçamento. O senador peemedebista destacou que pretende subir nesta terça na tribuna para pedir que cada colega vote de acordo com sua consciência. Ele também promete abrir seu voto e admitiu que seu "pensamento" é pela cassação. "Mas não posso dizer agora que esse é o meu voto. Se estou dizendo que o Senado (deve) se transformar num tribunal, tenho de esperar os últimos argumentos da defesa, que é quem fala em último lugar. Acho muito difícil que ele (Renan) possa mudar o quadro que está aí. Mas eu tenho que ouvir". Ética  Simon participou pela manhã de um café da manhã na sede da Associação Comercial de Minas, onde falou sobre ética na política. Na Fiemg, o senador concedeu entrevista ao lado do ex-presidente Itamar Franco (sem partido), que também não poupou o governo Lula. Itamar ressaltou que não saberia responder se a ética vai prevalecer na votação desta quarta-feira. Mas ao ser questionado se o governo irá abrir a chave do cofre, foi enfático: "Já está abrindo", afirmou, reclamando da substituição de José Pedro Rodrigues na presidência de Furnas Centrais Elétricas. "Não é só CPMF, não apenas esse caso do presidente do Senado. O governo está vergonhosamente barganhando. Ele barganha o imposto da CPMF, vai tentar barganhar pelo presidente do Senado. Acabou esse episódio, as barganhas continuarão".

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