Shell contesta laudo da prefeitura de Paulínia

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Por Agencia Estado
Atualização:

A Shell Química do Brasil, representada pela vice-presidente da Divisão Química, Maria Lúcia Braz Pinheiro, e pelo médico toxicologista Flávio Zambrone, refutou hoje, em Campinas, o relatório divulgado ontem em Paulínia que aponta a contaminação por metais e organoclorados de moradores do Recanto dos Pássaros. Maria Lúcia descartou também a remoção dos moradores do bairro, como indica o laudo. O documento, elaborado por médicos da Secretaria de Saúde de Paulínia a partir de exames feitos pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 181 moradores do bairro, informa que 86% dos examinados têm no organismo pelo menos um metal ou organoclorado acima dos níveis recomendados. Ainda conforme o laudo, 88 adultos e 27 crianças apresentam quadro de contaminação crônica. A médica Cláudia Guerreiro e o toxicologista Igor Vassilieff, que assinam o relatório, afirmam que a fonte contaminadora continua presente no local e recomendam a remoção dos moradores o mais rapidamente possível, para evitar que continuem expostos aos elementos químicos. Zambrone garante, no entanto, que houve uma interpretação equivocada dos resultados dos exames médicos. O toxicologista afirma que, a partir dos dados descritos no relatório, os moradores do bairro não estão contaminados nem por organoclorados nem por metais. Segundo ele, os índices utilizados no laudo para determinar a contaminação não têm respaldo científico. Nos exames feitos simultaneamente pela Shell, foram usados índices de referência da Organização Mundial de Saúde (OMS). As análises promovidas pela empresa nos laboratórios Fleury e ABC, dos Estados Unidos, em 159 pessoas, das quais 45 moradores fixos, não revelaram quadros de intoxicação, conforme Zambrone. "O que importa é que, pelo relatório, os exames feitos pela Secretaria de Saúde deram os mesmos resultados que os feitos pela Shell, o que revela que os moradores não estão contaminados", afirma o médico. Ele recorda que não há casos, na literatura médica, de tumores associados aos drins. "Seria uma novidade", analisa, referindo-se aos apontamentos do laudo de tumores benignos e malignos provocados pelas substâncias. Para o toxicologista, o relatório da Prefeitura traz "informações pobres e imperfeições técnicas importantes". Ele cita o caso da contaminação por aldrin. Segundo o laudo, 20 dos 181 moradores, sendo cinco crianças, estão com níveis de aldrin acima do recomendado. Mas não há nenhum caso de contaminação por dieldrin. "É impossível encontrar contaminação por aldrin e não por dieldrin na mesma pessoa. O aldrin se transforma em dieldrin em poucas horas", justifica. Segundo o toxicologista da Shell, essa informação derruba a tese dos dois médicos da Prefeitura de que a fonte contaminadora continua oferecendo perigo aos moradores. Eles chegaram à conclusão porque a presença de aldrin insinua contaminação recente. Mas Zambrone enfatizou que não é possível haver contaminação por aldrin e não por endrin, como consta no laudo. O médico aponta que o laudo não traz informações mais detalhadas, que permitiriam uma análise ampla dos exames e lamenta que a Prefeitura tenha se recusado a discutir os resultados com a equipe da Shell. "Eles haviam marcado uma reunião conosco mas não nos receberam. É lamentável que eles tenham demorado tanto para processar esses resultados, que estão de posse dos médicos desde 11 de julho. Se houvesse mesmo caso de contaminação, essa demora seria imperdoável do ponto de vista médico", afirma. Maria Lúcia reconhece que a situação dos moradores do Recanto dos Pássaros ficou insustentável depois da divulgação do laudo da Prefeitura. Mas diz que a empresa não pretende retirá-los do bairro. "É uma medida extrema e nós temos informações de que ela não é necessária. Se a Prefeitura acha o contrário, ela que remova os moradores", alega. A Prefeitura deu um prazo de 15 dias para a Shell manifestar-se sobre o laudo, entregue à empresa na quarta-feira à noite. Para Zambrone, o documento não acrescenta nada às informações já divulgadas pela empresa. Ele conta que solicitou ontem à Prefeitura informações mais precisas sobre os exames e as metodologias adotadas. Diz que terá seu parecer no máximo uma semana depois de receber os documentos.

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