Sete meses após ser preso, Dirceu inicia trabalho externo

Ex-ministro começou a dar expediente em escritório de advocacia; na saída, funcionário do prédio provocou: ‘O crime compensa, né?’

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Por Mariângela Gallucci
Atualização:

Atualizado às 21h48 - BRASÍLIA - Quatro minutos depois das 18h, José Dirceu deixava pela primeira vez o escritório de advocacia onde começou a trabalhar nesta quinta-feira, 3, beneficiado por decisão do Supremo Tribunal Federal que o autorizou a ter emprego fora da prisão onde cumpre a pena pela qual foi condenado no julgamento do mensalão.

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O ex-ministro não deu ouvidos aos jornalistas, mas não pôde deixar de escutar o protesto de um funcionário que trabalha no mesmo prédio. “O crime compensa, né, Dirceu?”, gritou o trabalhador da janela.

Condenado a 7 anos e 11 meses em regime semiaberto por corrupção, o ex-ministro retornou ao Centro de Progressão Provisória em um utilitário esportivo de luxo, falando ao celular. Dirceu está preso desde 15 de novembro. Nesses 229 dias, passou pela Superintendência da Polícia Federal em São Paulo e no Distrito Federal e pelo Complexo Penitenciário da Papuda, sempre em regime fechado.

" SRC="/CMS/ICONS/MM.PNG" STYLE="FLOAT: LEFT; MARGIN: 10PX 10PX 10PX 0PX; Nesta sexta, por causa do jogo entre Brasil e Colômbia, os colegas de trabalho de Dirceu estarão de folga. O ex-ministro ficará na unidade prisional. ‘Fora da gaiola’. Nesta quinta, Dirceu chegou ao escritório antes das 8 horas. O trato é que ele trabalhe das 9 às 18 horas. “É uma coisa natural, excitação de uma pessoa há tanto tempo presa e que se vê livre. Você já abriu gaiola de passarinho? Ele sai, canta, roda”, disse o advogado José Gerardo Grossi, empregador do ex-ministro, ao comentar o dia de trabalho do novo funcionário. O advogado brincou com a aparência de Dirceu, visivelmente mais magro. “Eu estou com inveja dele”, afirmou. Grossi disse que no início do expediente eles conversaram “abobrinhas”. “Neste primeiro momento, fazia tempo que não nos falávamos. Tomamos café. Agora que a gente vai cuidar de trabalhar.” Dirceu vai receber R$ 2,1 mil para trabalhar na biblioteca do escritório. Além disso, terá o benefício de reduzir 1 dia da pena a cada 3 trabalhados. Com isso, a expectativa é de que no fim do ano Dirceu e outros condenados no processo do mensalão possam progredir para o regime aberto, no qual o preso é autorizado a dormir em casa. Se não trabalhasse, Dirceu teria de esperar até março de 2015 para pleitear a mudança. O primeiro a progredir de regime deve ser o ex-deputado José Genoino. Condenado a 4 anos e 7 meses, o ex-parlamentar está no Complexo Penitenciário da Papuda. Ele não dá expediente externo. Em agosto, poderá ir para a prisão domiciliar. O trabalho de Dirceu no escritório de advocacia foi autorizado na semana passada pelo plenário do STF. Antes, o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, havia rejeitado o pedido e dito que a oferta de emprego parecia ser “arranjo entre amigos”. Como consequência da autorização, Dirceu foi transferido na quarta-feira da Papuda para o CPP, onde ficam abrigados os presos que trabalham fora da cadeia. Além de Dirceu, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, empregado na CUT de Brasília, o ex-deputado Bispo Rodrigues, em uma rádio, e o ex-deputado Valdemar Costa Neto, em um restaurante, voltaram a trabalhar ontem. Costa Neto, inclusive, não deixou a política partidária. Ele vem comandando o seu PR mesmo após a prisão: articula a bancada na Câmara e orienta as alianças para a eleição. 

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