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Serra erra ao optar pelo não-confronto

Tucano não consegue convencer eleitores de que ele, e não Dilma, era o candidato ideal para

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Por Redação
Atualização:

BRASÍLIA - José Serra chegou ao final da segunda campanha presidencial - e mais uma vez derrotado - carregando dois grandes erros. Primeiro, o tucano não conseguiu anular a guerra eleitoral plebiscitária montada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para Dilma Rousseff. Segundo, abrindo mão de se apresentar como candidato de oposição.

 

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Serra não conseguiu convencer o eleitor de que ele deveria trocar a "continuidade" prometida por Lula por um novo governo tucano.

 

Depois de admitir que Lula era um personagem da política "acima do bem e do mal" e de dizer que "candidato a presidente não é líder da oposição", Serra fez uma campanha com tanto ziguezague que, diante, novamente, da acusação de "privatista", encheu o horário eleitoral com propaganda em que revidava acusando Dilma de "já ter vendido parte do pré-sal a estrangeiros".

 

A expectativa inicial era bem diferente. Quando o então governador de Minas Gerais e senador eleito Aécio Neves discursou no dia 10 de abril a cerca de 3,5 mil dirigentes e militantes do PSDB, DEM e PPS, no pré-lançamento da candidatura Serra, o tucanato identificou ali o mote para a campanha de oposição. Sob aplausos entusiasmados do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e apupos de toda a plateia, Aécio voltou sua artilharia de críticas e ataques ao PT e ao modo petista de governar.

 

Grato pelo discurso firme de apoio do mineiro, Serra chegou a beijar Aécio na face. Mas a cortesia política parou aí. Lançada a candidatura, o ex-governador não foi chamado para discutir e definir as táticas da campanha. Ao contrário, os encontros iniciais com Fernando Henrique e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) acabaram suspensos pelo próprio Serra.

 

"São reuniões da agenda negativa", queixava-se o candidato Serra. Além da resistência a críticas e sugestões, havia o temor de que eventuais reparos vazassem para a imprensa. Serra não ouviu os líderes tucanos ao longo da campanha até a votação em primeiro turno. Colocado de escanteio, FHC não escondeu a mágoa nem a decepção com o candidato que não assumia o legado de seu governo e acabou perdendo a identidade.

 

Em desabafo a um interlocutor na ocasião, Aécio fez a seguinte síntese dos rumos da campanha do paulista: "Serra só queria apoio eleitoral, e não apoio político". A queixa generalizada do tucanato foi a de que o candidato à Presidência "não abriu espaço para discussões políticas dentro da campanha". Ao final do primeiro turno, o mesmo Aécio sintetizou a situação: "Serra foi candidato como quis, com o discurso que quis e da forma que quis."

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Tanto é assim, que entrou na campanha com a vaga de vice aberta e arrastou a definição até o final do prazo legal para registrar a chapa. Não bastasse a recusa de Aécio em compor a "chapa puro-sangue do PSDB", que soava como derrota, Serra ainda esticou a corda a ponto de comprar briga com o DEM e de se desgastar interna e externamente com a escolha.

 

Ao final, o anúncio do vice Índio da Costa (DEM-RJ) não agregou votos nem apoios. A partir daí, Serra fechou a campanha, interrompendo o diálogo com tucanos e aliados. Ignorou o conselho político, que não se reuniu uma vez sequer, e se isolou da máquina partidária e dos aliados.

 

O DEM reclamou muito do candidato que passou o primeiro turno preocupado em não confrontar o presidente Lula. "Fazer oposição é um dever e ganhar é uma consequência", dizia o líder do DEM na Câmara, Paulo Bornhausen (SC), que tocou a campanha em Santa Catarina sob ameaça de Lula de "exterminar" os Bornhausens da política.

 

Coordenação confusa. Serra não entrou na polêmica, até porque não montou um time nos Estados para tocar a campanha e ignorou os coordenadores regionais escalados pelo presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE). O candidato deixou claro que não queria reuniões com coordenadores. "Vão ficar reclamando e pedindo coisas. Isso não é bom", justificou.

 

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Como não interagia com as regionais do PSDB e das legendas aliadas, acabou fazendo uma campanha de improviso Brasil afora. As programações eram definidas à última hora, sem mobilização. Surpreendidos com visitas não programadas, aliados se irritavam e reclamavam do candidato. Os erros foram tantos, que, diante da perspectiva de um segundo turno, a recomendação do comando da campanha a Serra foi uma só: "Não faça nada. Deixe que a tendência atual se encarregue de levá-lo ao segundo turno."

 

Apesar dos problemas, nos 20 dias que antecederam o primeiro embate a equipe de marketing apostava no segundo turno, tomando por base levantamentos internos. Receberam o resultado das urnas sem planos de mudança, mas líderes aliados e do PSDB já davam como certa a rediscussão dos rumos da campanha. Diziam que queriam mudar até o visual e o "astral" do candidato, e conseguiram.

 

Quando a campanha eletrônica recomeçou no rádio e na televisão, o tucanato finalmente gostou do que viu. Alívio geral diante da avaliação de que, no primeiro turno, Serra apostara tudo no programa de televisão e errara no marketing da campanha.

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"O primeiro programa de televisão do Serra escureceu a humanidade. Foi tão ruim, que todo mundo se desorientou", lembrou Sérgio Guerra. "O candidato estava feio, o programa estava triste e a mensagem era desastrosa, com o Serra falando coisas que o povo não queria ouvir e não entendia." Já no segundo turno, todos estavam de acordo que o marqueteiro Luiz Gonzalez finalmente "acertara a mão".

 

Esperanças renovadas, a expectativa do tucanato era de que estava de volta o Serra dos acertos. Serra assumiu a segunda candidatura despido do perfil de desagregador e com uma imagem renovada de candidato que soma e agrega aliados. Ainda assim, o eleitor preferiu a "continuidade" e não viu em Serra razões para trocar de governo, repetindo o panorama político de 2006. Como hoje, o eleitor não viu na reeleição daquela época motivos para trocar Lula por Alckmin.

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