'Serra é um homem mais preparado para o posto', diz Richa

Prefeito reeleito de Curitiba também elogia Aécio Neves, mas não esconde preferência por governador de SP

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Por Evandro Fadel
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Reeleito prefeito de Curitiba, com o porcentual de 77,27% dos votos válidos, o maior índice já conseguido em eleições na capital paranaense, que costumam ser acirradas, Beto Richa (PSDB), de 43 anos, é sucinto ao destacar o que diferencia seu partido do PT: competência e seriedade. "Esse é o grande exemplo de que o PSDB está muito preparado para retomar o governo central", acentuou em entrevista exclusiva ao Estado.   Nas análises sobre os nomes ventilados em seu partido, ele tenta equilibrar as forças dos governadores José Serra (São Paulo) e Aécio Neves (Minas Gerais), mas não consegue esconder totalmente que o primeiro é seu preferido. Apesar de destacar que o nome precisa sair de uma discussão democrática no partido, "diferente de vezes anteriores quando os cardeais definiram o candidato".   Segundo ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vinha mantendo uma boa popularidade porque "surfou em onda favorável da economia mundial". Mas, agora, com a crise financeira instalada no mundo, acredita que haverá reflexo negativo no governo. "Não será aquele mar de rosas que foi até o momento", salientou. Em seu entender, isso refletirá na escolha do candidato da situação. Para Richa, as eleições municipais mostraram que o fenômeno de transferência de votos não é mais preponderante. "E ele (Lula) já tem dificuldades para apresentar um nome viável eleitoralmente", destacou.   Estado - Qual a perspectiva política e administrativa que o senhor vê para 2009, quando se aquecem as discussões para as eleições presidenciais de 2010? Beto Richa - Em relação ao PSDB eu vejo com muito otimismo. O nome que vem se consolidando e crescendo nas últimas pesquisas é o do Serra (José Serra, governador de São Paulo). Em todas as pesquisas, já há algum tempo, aparece em primeiro lugar. Tem feito uma boa administração no governo, como fez na prefeitura, como fez na época em que foi ministro. Já tem um nome bem consolidado, um trabalho realizado em todas as áreas, em todos os mandatos que ele ocupou, que merecem reconhecimento e elogios.   Demonstra muita competência e é muito austero na aplicação dos recursos. É um homem mais que preparado para assumir o posto maior no Brasil. Por outro lado, tem o Aécio (Aécio Neves, governador de Minas Gerais), que tem outros atributos além da competência, é jovem, tem a tradição da boa política de família, também governa um Estado com densidade eleitoral significativa. O PSDB está tranqüilo por ter bons nomes, mas é cedo para definir quem vai ser o candidato. Acho que o momento adequado é o final do ano que vem.   Estado - Como o senhor acredita que deve ser a definição dentro do partido? Richa - Acho que de forma democrática, diferente de vezes anteriores, quando três ou quatro cardeais definiram o candidato. Até para legitimar, para ter a união do partido, para ter o entusiasmo de todas as instâncias, desde a militância, parlamentares e cúpula, para terem essa clareza de que foi escolha democrática. Até para evitar que o partido tenha divisão, um racha, em razão de decisão em quatro paredes.   Estado - Como o senhor analisa uma possível prévia em pesquisa com a população? Richa - As pesquisas ocorrem sistematicamente, já são feitas e vão se intensificar no ano que vem. Não há dúvida de que vão balizar e interferir na decisão de um nome. Além dos atributos pessoais precisa ter viabilidade eleitoral.   Estado - É possível que a discussão eleitoral estabeleça novamente um paralelo entre as administrações Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva? Richa - Não. Vão pesar as propostas dos candidatos, o histórico, o passado, e nesse aspecto os potenciais candidatos do PSDB têm uma boa folha de serviços prestados ao País. O PSDB tem a oferecer como candidato essa pessoa que o eleitor está procurando para votar, alguém em quem ele pode confiar, que vai honrar com os compromissos que está pregando em campanha. Além de bons candidatos, o PSDB tem boas propostas para governar o País.   Estado - Qual é a grande diferença na forma de o PSDB e do PT governarem. O que faz com que o senhor diga à população que vale a pena votar no PSDB e não no PT? Richa - Competência e seriedade. O PSDB tem referências de boas administrações no Brasil, não só de prefeituras, mas de governos. O Aécio foi considerado o melhor governador do Brasil. Eu tive a felicidade de ser escolhido o melhor prefeito do Brasil. Tem o exemplo do Serra também, o prefeito de Teresina (Silvio Mendes), o de Cuiabá (Wilson Santos) e assim por diante. Se você pegar as administrações petistas e as administrações peessedebistas, numa linha geral, a diferença é gritante. Esse é o grande exemplo de que o PSDB está muito preparado, muito consciente da sua obrigação para retomar o governo central e fazer uma boa gestão no Brasil.   Estado - De que forma a crise econômico-financeira pode influenciar nos debates eleitorais? Richa - É evidente que se a crise se agravar, e é a tendência, também vai interferir no processo. O governo Lula até o momento tem tido bons índices de aprovação porque também surfou em onda favorável da economia mundial. Isso não há dúvida, embora o presidente em si tenha seus méritos. Mas, em contrapartida, como ele teve os louros e os resultados positivos em função dessa onda favorável, agora, em onda desfavorável, também vai ter influência negativa no governo.   Estado - Como a crise seria desfavorável ao governo? Richa - Ele (Lula) já tem dificuldade em apresentar um nome viável eleitoralmente. Está mais que provado, e a última eleição municipal é prova disso, de que não tem mais poste eleito. Não se transfere voto com facilidade como antes. Hoje o eleitor quer saber quem é o candidato, não interessa quem o está apoiando, quem é o seu padrinho. O eleitor vota exclusivamente no candidato. Ficou provado isso. Então, como não tem ninguém assim com reconhecimento, com todas essas qualificações, que já tenha passado em postos importantes e mostrado trabalho, acho que o PT e o presidente Lula terão sérias dificuldades na próxima eleição. Ele terá prejuízos. Não será aquele mar de rosas que foi até o momento. Embora o Brasil esteja relativamente preparado para enfrentar a crise, alguma dificuldade vai ter, apertar o cinto vai ser necessário.   Estado - A atuação do governo federal para minimizar os efeitos da crise tem sido a correta em sua avaliação? Richa - De certa forma sim. O governo tem que atuar e nós temos visto os governos atuarem no mundo inteiro e não apenas no Brasil. Tem que socorrer até para preservar os empregos, que é o mais importante.   Estado - O senhor ainda tem pelo menos dois anos na administração com um governo federal de partido oposicionista, os municípios dependem em muita coisa do governo federal, sobretudo em obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), que tem na ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, uma das coordenadoras e também uma possível candidata. Como o senhor prevê essa convivência? Richa - Em linhas gerais, nós temos tido boa relação com o governo federal, boa parceria, trouxemos bons investimentos para Curitiba. Até em um episódio especificamente a ministra Dilma teve participação direta, falei com ela, foi muito atenciosa, nos ajudou. Tenho cumprido com meu papel de prefeito, não deixando que questões políticas interfiram no bom andamento da prefeitura. Com o governo do Estado é mais difícil, na relação com o governador Roberto Requião (PMDB), em razão do temperamento dele, mas sempre estive aberto ao diálogo e estou disposto a tentar reatar uma relação administrativa com o Estado.   Estado - Quais são suas pretensões para 2010? Richa - Já disse mil vezes e repito que sou muito tranqüilo, muito pé no chão. Existe aí uma grande expectativa em relação a meu nome para o governo do Estado, mas acho que ainda é cedo. Parte disso é euforia do bom resultado que tivemos em Curitiba, onde a tradição era de eleições apertadas, e a nossa foi com 77%. Conseguimos atingir 90% de aprovação da nossa gestão. Em função disso irradiou no Paraná inteiro, até com repercussão nacional, a nossa gestão. Meu mandato pertence às pessoas que me elegeram, uma avaliação agora é extemporânea. Sou soldado para manter o grupo unido, onze partidos que estiveram na coligação. Se esse grupo se mantiver unido é imbatível na eleição de 2010. É preciso consciência e desprendimento das lideranças para no momento oportuno escolher quem melhor representa um projeto para o Estado e tem viabilidade eleitoral para vencer.

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