'Será que só a Petrobrás?', questiona Ricardo Berzoini
Petista sugere que esquema da estatal federal também ocorre em empresas estaduais sob comando de partidos da oposição
Entrevista com
Ricardo Berzoini
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Ricardo Berzoini
26 de abril de 2015 | 03h00
BRASÍLIA - Integrante do núcleo mais próximo da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, afirma que o escândalo da Petrobrás - que atingiu em cheio o seu partido, o PT - é decorrente de "um sistema de corrupção que opera há muito tempo e que busca, de tempos em tempos, se aproximar de agentes políticos para os seus objetivos."
Os presidentes da Câmara e do Senado levantam a bandeira de independência. Essa independência beira o oposicionismo?
Mas não há um foco por parte do PMDB mais de confronto do que de aliança?
Essa independência é uma tentativa de se desatrelar do governo, num momento de crise?
Não. Não vemos essa expectativa. O PMDB sempre teve divisões internas. No governo Fernando Henrique havia uma ala oposicionista. No governo Lula boa parte do tempo contamos só com um pedaço do PMDB e, no segundo mandado, conseguimos juntar mais gente. Agora, no primeiro segundo da presidente Dilma, enfrentamos as mesmas tensões. A diferença é que existe do ponto de vista do PMDB um caldo de cultura menos governista do que no passado e que se manifestou inclusive na convenção que apoiou o nome do Michel Temer para vice e a aprovação à coalizão. Foi uma convenção disputada. Temos que reconhecer isso.
A prisão de Vaccari agrava a rejeição da sociedade ao PT?
Não é a prisão isoladamente. Temos um conjunto de notícias em relação à Petrobrás que atinge o mundo político como um todo e o PT em particular. Sempre digo que existe também, tanto na investigação quanto na forma como as coisas são publicadas, um foco bastante prioritário ao PT... As notícias existem, não há invenções. Mas há, eventualmente, uma seletividade da divulgação, ou uma seletividade na investigação. O que achamos importante realçar é que existe um compromisso com o governo em tratar esse problema de maneira republicana. A Polícia Federal, o Ministério Público, a AGU (Advocacia-Geral da União), a Justiça cumprem suas funções e o governo tem que continuar governando.
Esses fatos contribuem para o desgaste do governo?
Evidente. Se não houvesse um desgaste seria uma surpresa. Mas há um sistema de corrupção operando na Petrobrás há muito tempo e que busca, de tempos em tempos, se aproximar de agentes políticos para os seus objetivos. A fonte dessa corrupção é esse conluio entre funcionários de carreira. Ainda bem que são poucos porque a maioria dos funcionários da Petrobrás são pessoas honestas e dignas. Mas alguns funcionários de altos postos de carreira se envolveram com empreiteiras e buscaram legitimar esse envolvimento através da vinculação política, em diferentes governos. O curioso é que ninguém se pergunta: será que isso acontece só na Petrobrás? Será que grandes estatais estaduais de governo de outros partidos não estiveram envolvidas também nisso? Será que não cabe um paralelo entre o que aconteceu na Petrobrás com o que aconteceu no Metrô de São Paulo (formação de cartel), o que aconteceu no governo de Minas (mensalão mineiro)nos anos anteriores?
Como avalia o balanço da Petrobrás que mostra perda de R$ 6,2 bi em corrupção?
Todo esse pacote de notícias ruins pode atingir as pretensões eleitorais do PT em 2016?
Atrapalhar, atrapalha. O que não acho é que seja algo tão direto como alguns avaliam. Normalmente, a eleição municipal é presidida por uma avaliação do que está sendo feito em cada cidade pelo prefeito. É claro que não dá para abstrair o fato de que esse conjunto de informações, verdadeiras ou não sobre o PT, vai ter impacto eleitoral. O que não acho é que seja um impacto intransponível. O partido precisa se organizar para essa disputa de maneira objetiva. A melhor saída é optar pela realidade e não subestimar a inteligência do eleitor. Tem que dialogar com a população.
As idas e vindas do PSDB sobre o impeachment são uma tentativa de desgastar eventual campanha do Lula em 2018?
Faz parte da luta política. Muitas vezes eles levantam essa bandeira até por falta de algo mais consistente para dizer. Temos que tratar com tranquilidade, com firmeza, dizendo que alguns discursos são golpistas, mas ao mesmo tempo lembrando que isso está previsto na Constituição e pode ser uma forma de tensionar o ambiente político até 2018.
O senhor também vai trabalhar com ampliação da publicidade das ações do ministério?
Temos a obrigação de comunicar o que estamos fazendo. Não precisamos necessariamente de publicidade para isso. Comunicação não é publicidade. O que nós precisamos é de um programa consistente para não falar o que não existe.
Não foi um contrassenso não vetar a ampliação do Fundo Partidário neste momento de ajuste?
É um símbolo negativo você ter a ampliação dos recursos partidários num momento em que há esforço fiscal. No entanto, antes de tomar qualquer decisão, o governo teve a preocupação de consultar o relator sobre qual acordo tinha sido feito. Segundo ele, tinha sido feito um acordo com todos os partidos. A opção era vetar integralmente, ou seja, deixar os partidos sem nenhum recurso ou sancionar integralmente. Segundo o relator, todos os partidos, sem exceção, aderiram a esse entendimento. Se os partidos se manifestarem, nada impede que o governo acate uma mudança, uma emenda...
Há espaço para debater a regulamentação da mídia?
Esse tema não pode se encarado como um tabu. Se você pegar a lei atual em vigor, de 1962, e não mostrar que ela é a lei em vigor, as pessoas podem dizer: olha, isso aqui está censurando conteúdo. Esse assunto é tão polêmico que tenho assumido a postura como ministro dizendo publicamente que, assim como tem setores que demandam uma mudança forte na regulamentação, tem setores que entendem que não haja mudança nenhuma. E tem setores que nunca pensaram sobre isso. A melhor forma para contribuir para esse debate de maneira não sectária é você estimular o debate.
Como trata o tema da censura?
Falo de uma maneira muito objetiva. A liberdade de expressão é clausula pétrea.
A decisão de não ter doações privadas passará no Congresso do partido?
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