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Senadores falam em CPI para apurar suposta ‘rachadinha’ de Bolsonaro

Renan Calheiros e Alessandro Vieira pretendem investigar denúncia de desvio ilegal de salários pelo presidente quando era deputado; defesa de Flávio fala em armação

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Por Caio Sartori
Atualização:

RIO –  Senadores da CPI da Covid, Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Renan Calheiros (MDB-AL) reagiram nesta segunda-feira, 5, à suspeita de que o presidente Jair Bolsonaro se apropriava de salários de assessores quando era deputado federal. Reportagem do portal UOL publicou áudios atribuídos à fisiculturista Andrea Siqueira Valle, nos quais ela relata que seu irmão, André, foi exonerado por Bolsonaro de um cargo na Câmara. 

O motivo da demissão teria sido a resistência do servidor a repassar ao então deputado toda a parte do salário que combinara em troca da nomeação. O esquema configura, em tese, o crime de peculato – desvio ilegal de verba ou bem públicos, por servidor. Andrea é irmã de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher de Bolsonaro.

Senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) durante sessão da CPI da Covid. Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado

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O senador Alessandro Vieira disse que apresentaria ainda nesta segunda requerimento de abertura da “CPI da Rachadinha”. Seria uma investigação específica para a denúncia da prática de políticos de receber “de volta” salários de servidores que nomeiam, muitas vezes fantasmas.

Já Renan quer convocar Andrea para depor na comissão que relata. O colegiado investiga a atuação do governo na pandemia do novo coronavírus. Os áudios foram obtidos pelo Ministério Público do Rio. Neles, Andréa fala no suposto esquema. Também explica a demissão do irmão.

“O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6 mil, ele devolvia R$ 2 mil, R$ 3 mil. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo’”, diz, conforme uma das gravações.

Bolsonaro foi deputado federal de 1991 a 2018. Bolsonaro e seus filhos já negaram ilegalidades nos gabinetes. Alegam serem alvos de perseguição política por adversários do presidente.

Outra reportagem publicada pelo UOL afirma que um amigo de Bolsonaro recolhia salários de servidores para devolução. Coronel da reserva do Exército, Guilherme dos Santos Hudson teria sido citado por Andrea, que é sua sobrinha. O militar seria um dos responsáveis por pegar os salários dos servidores do gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa para a rachadinha, conforme o áudio – Flávio já foi denunciado pelo Ministério Público do Rio por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Foi acusado por suposta rachadinha na Assembleia Legislativa, quando era deputado estadual. Em março, a 5ª turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou pedido da defesa de Flávio para anular o inquérito.

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“O tio Hudson também já tirou o corpo fora, porque quem pegava a bolada era ele. Quem me levava e buscava no banco era ele”, descreve a fisiculturista, que também tinha cargo no gabinete de Flávio.

Hudson foi colega de Exército de Bolsonaro. Conheceram-se nos anos 70, na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). A família da segunda ex-mulher de Bolsonaro é de Resende, no sul fluminense. Na cidade, fica a Aman. Foi lá que o então deputado e Ana Cristina venderam um terreno em dinheiro vivo a Hudson em 2008. O negócio foi revelado pelo Estadão em setembro de 2020.

O senador e seu ex-auxiliar negam ilegalidades. O Estadão não conseguiu contato com Hudson, Andréa e Ana Cristina.

Em nota, a defesa de Flávio Bolsonaro classificou as gravações exibidas pelo UOL como “clandestinas”. 

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