Senadores cobram Tarso por ter deportado cubanos

Para oposição, País cedeu à pressão de Cuba e enviou pugilistas de volta em processo açodado e autoritário

PUBLICIDADE

Por Vannildo Mendes e BRASÍLIA
Atualização:

O episódio da deportação para Cuba de dois atletas que tinham abandonado a delegação nos Jogos Pan-Americanos, no Rio de Janeiro, provocou bate-boca e acusações ao governo, ontem, durante o depoimento do ministro da Justiça, Tarso Genro, na Comissão de Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado. A oposição, especialmente o senador Heráclito Fortes (DEM-PI), insistiu na acusação de que o governo Lula cedeu a pressões de Cuba e enviou os pugilistas Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara de volta num processo açodado e autoritário. Tarso voltou a dizer que a Polícia Federal agiu dentro da legalidade e não houve pressões do governo de Fidel Castro. Em 20 de julho, o comitê organizador do Pan informou o desaparecimento de Rigondeaux e Lara e a Secretaria Nacional de Segurança Pública desencadeou uma ampla operação para localizá-los. Eles foram presos no dia 2, em uma praia de Araruama e embarcaram para Havana na noite do dia 4, num vôo fretado pelo governo cubano. Ontem, Tarso assegurou à comissão que os atletas tiveram toda a assistência jurídica - inclusive de representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e do Ministério Público, em audiências sem a presença dos delegados - e rejeitaram ofertas de refúgio, manifestando desejo de voltar para Cuba. Ele confirmou que no dia 2 recebeu telefonema do assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, mas negou que tenha sofrido qualquer ingerência ou pressão para forçar o retorno dos boxeadores. "Ele apenas me perguntou sobre a situação e eu lhe disse: ?Estamos dando toda a assistência legal. Se eles quiserem, ficam. Se quiserem, voltam?." Para reforçar seu argumento, Tarso lembrou que outros três cubanos pediram refúgio e continuam no Brasil livremente. "Se estivéssemos a serviço do governo cubano, faríamos um pacote completo com os cinco fugitivos - os dois que pediram para voltar e os três que pediram refúgio", acrescentou o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, presente à audiência. Segundo Lacerda, não houve contato de autoridades cubanas antes, durante ou depois do Pan para pressionar pela volta dos pugilistas ou dos atletas que ficaram no País. "Os contatos ocorreram no nível da segurança dos jogos, entre a delegação cubana e a delegacia onde foi notificado o desaparecimento dos atletas." DURÍSSIMO As explicações de Tarso e Lacerda não convenceram boa parte da oposição, sobretudo Heráclito Fortes, presidente da comissão. "O ditador de Cuba, Fidel Castro, foi duríssimo e enquadrou o governo brasileiro, resultando na deportação dos atletas", atacou o senador. Ele disse que a deportação foi um ato açodado que macula a imagem de Tarso e acusou o governo brasileiro de pôr a PF e seu aparato de segurança a serviço de Cuba para evitar a fuga de seus atletas. Heráclito também acusou o governo de rapidez excessiva em deportar Lara e Rigondeaux e levantou dúvidas sobre o aval da OAB e do Ministério Público à ação da PF. Ele criticou até o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), que não apontou nenhuma ilegalidade na deportação. Em tom de gozação, a líder do governo, Ideli Salvatti (PT-SC), sugeriu que Heráclito destitua a direção do Acnur e assuma seu comando. O senador não gostou e houve um princípio de bate-boca entre os dois: "Ouso sim criticar a ONU. Meu trabalho aqui é exercer o mandato com independência. Dispenso suas sugestões. Eu não denuncio colegas." FRASES Paulo Lacerda Diretor-geral da PF "Se estivéssemos a serviço do governo cubano, faríamos um pacote completo com os cinco fugitivos" Heráclito Fortes Senador (DEM-PI) "O ditador de Cuba, Fidel Castro, foi duríssimo e enquadrou o governo brasileiro, resultando na deportação dos atletas"

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.