Senadores ameaçam reavaliar apoio a Temer em seis meses

Parlamentares dizem que placar para garantir afastamento definitivo de Dilma dependerá do sucesso do novo governo

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Por Ricardo Brito
Atualização:
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) Foto: André Dusek|Estadão

Com a expectativa de que o afastamento da presidente Dilma Rousseff será sacramentado pelo Senado nesta semana, o eventual governo interino de Michel Temer terá de reforçar a negociação com os senadores a fim de garantir uma punição definitiva da petista no julgamento previsto para ocorrer até o mês de setembro.

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A avaliação da maioria dos parlamentares com os quais o Estado conversou nos últimos dias é de que, mesmo sendo necessária uma maioria simples para afastá-la, Dilma poderá ser retirada temporariamente do cargo com um “quórum de condenação”, isto é, ao menos 54 dos 81 integrantes da Casa.

Contudo, a repetição desse placar - que impediria o retorno dela ao Planalto - dependerá principalmente do sucesso da gestão do peemedebista e de eventuais desdobramentos da Operação Lava Jato que possam atingir o presidente interino ou o núcleo do governo.

Sob a condição do anonimato, cinco senadores afirmaram à reportagem que, mesmo sem concordar até o momento que a petista cometeu crime de responsabilidade, estão decididos a votar para afastar temporariamente a presidente do cargo. Eles alegam uma série de motivos: impopularidade, pressão do eleitorado em seus Estados, as denúncias de corrupção e a avaliação de que, no momento, a petista não tem mais condições de reverter a crise econômica.

Condições. O apoio à gestão do vice, entretanto, não será incondicional. Há quem já agora afirme reservadamente que, se o desempenho de Temer for aquém do esperado, com aumento do desemprego e a Lava Jato no seu encalço, poderá mudar o voto e absolver Dilma no futuro. Um dos senadores ouvidos pela reportagem afirma que, se isso ocorrer, o melhor seria trabalhar pela aprovação de uma proposta no Congresso que antecipe as eleições presidenciais.

Outro ingrediente que pode dificultar o mandato do peemedebista, segundo senadores, é o fato de ele estar dando prioridade às negociações com a Câmara, onde o impeachment já foi admitido, em detrimento do Senado, responsável por julgar Dilma. Dias atrás, o líder do PMDB do Senado e tesoureiro do partido, Eunício Oliveira (CE), alertou pessoalmente Temer para não deixar de olhar a “nova” base aliada na Casa.

Em um encontro na residência oficial semana passada, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) - desafeto do vice -, queixou-se do desprestígio da bancada de peemedebistas até o momento. “Se no governo Dilma tínhamos três ministros e ainda acalmava o Garibaldi Alves (o primo dele, Henrique Eduardo Alves, era ministro do Turismo), passa a ter zero e vamos topar?”

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O senador Blairo Maggi (PR-MT) admite que a tarefa de Temer não é fácil e que são necessários poucos votos para absolver Dilma. Ele disse que a petista já tem 21 votos - para ela se livrar são necessários pelo menos mais sete apoios. “É um placar apertado. O governo (Temer) não pode errar daqui para lá. Se ele errar e nós chegarmos daqui a 180 dias e a população entender que está pior do que está agora, há um risco (de Dilma ser absolvida)”, afirmou Blairo, que neste sábado, 7, revelou ter aceitado o convite do presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), para se filiar ao partido e assumir o Ministério da Agricultura na gestão de Temer.

Peso. Senadores admitem que o afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), determinado pelo Supremo Tribunal Federal pode desestabilizar a gestão Temer. Cunha foi o principal articulador do impeachment de Dilma no Congresso e tem ajudado na montagem do futuro governo.

Petistas apostam que Cunha poderá se virar contra o vice-presidente. “Se o Cunha resolver entrar no rol dos delatores, acho que o governo Temer acaba no mesmo dia”, disse o líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE).