Senador repete discurso da véspera e despista cobranças

Sarney volta a apelar à biografia para se descolar de denúncias que atingiram sua imagem e a da instituição

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Por Eugênia Lopes
Atualização:

Horas antes de receber um ultimato de um grupo de parlamentares para promover no prazo de uma semana a eleição de um novo diretor-geral para o Senado, o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), repetiu o discurso do dia anterior: lançou mão novamente de sua biografia, para tentar escapar de denúncias que atingiram a sua imagem e a do Senado. Ele começou o dia em uma solenidade na sala contígua a seu gabinete, onde foi lançada uma campanha publicitária para melhorar a imagem do Congresso. Não disse sequer uma palavra sobre reformar a estrutura administrativa do Senado, que permitiu a proliferação de atos secretos. Mais tarde, já no plenário, foi frontalmente cobrado por senadores, que clamam por mudanças imediatas na Casa. Mergulhado em denúncias de atos secretos, entre os quais as nomeações de parentes para cargos no Senado, Sarney voltou a dizer que o Congresso é o "coração da democracia" e que os parlamentares "são transitórios". Defendeu ainda que os "maus parlamentares" sejam combatidos. Ao lado do presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), Sarney afirmou também que os parlamentares têm a "função de sofrer mais do que os outros ao tomar restrições todos os dias". Em seu discurso, Temer prestou solidariedade ao presidente do Senado. Disse que o Poder Legislativo é o "mais aberto e, por isso, o Poder saudavelmente mais aberto à crítica". Ponderou que o Páís atravessa "um período de absoluta normalidade democrática". A solenidade foi assistida por integrantes da Mesa Diretora do Senado e da Câmara e servidores. Alheio às denúncias, Sarney fez questão de parabenizar publicamente Elga Mara Teixeira Lopes, assessora da presidência do Senado, e alvo de um dos atos secretos, o qual permitiu que ela acompanhasse de perto o segundo turno da campanha da ex-senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), candidata derrotada ao governo do Maranhão, em 2006, e sem perder o salário pago pelo Senado. Depois do discurso feito no fim da manhã, Sarney voltou a ter agenda no meio da tarde, quando passou pelo constrangimento de ser cobrado publicamente, em plenário, pela necessidade de medidas profundas de reformulação do Senado. Além da eleição para eleger um novo diretor-geral já na semana que vem, Sarney também foi indagado sobre a proposta do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), de pôr na internet o valor dos salários de todos os cerca de 10 mil funcionários do Senado. Aí se instalou um debate: uns defendendo a medida, outros contra. "Vou convocar uma reunião da Mesa Diretora para a próxima terça-feira quando tudo isso será discutido", disse Sarney, encerrando a discussão.

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