Sem-terra invadem prédios do Incra em sete Estados

Integrantes do MST cobram pressa na reforma agrária, que, afirmam, parou no governo Lula

Por Roldão Arruda , Tiago Décimo e Elder Ogliari
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Militantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) ocuparam ontem as sedes das superintendências do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em sete Estados. Em São Paulo, quando os funcionários da superintendência chegaram para trabalhar já encontraram o edifício tomado. Os militantes impediram sua entrada, autorizando apenas a permanência do pessoal da segurança. Também ocorreram manifestações em Maceió, João Pessoa, Salvador, São Luís, Fortaleza e Goiânia. Na capital da Bahia, os militantes acamparam no estacionamento da superintendência regional. De acordo com a direção nacional do MST, as ocupações fazem parte de uma jornada de luta para exigir mais rapidez do governo na execução da reforma agrária. "Em outros governos, a reforma sempre andou a passo de tartaruga. No governo do presidente Lula, nem isso acontece: a tartaruga quase parou", disse ao Estado o militante José Batista de Oliveira, mais conhecido como Batista, da direção nacional do movimento. Em São Paulo, segundo informações do dirigente, chega a 1.600 o total de famílias acampadas, à espera de lotes da reforma. No Brasil seriam 140 mil. "Para piorar a situação, o governo não está dando assistência às famílias já assentadas", acusou Batista. "Em São Paulo são 700 famílias, que, depois de receberem o lote de terra, foram esquecidas. Conquistaram a terra, mas não contam com crédito, moradia, estradas, água, assistência técnica, enfim, nenhuma infra-estrutura. Isso impede as famílias de produzirem." Procurada pelo Estado, a direção nacional do Incra, em Brasília, preferiu não responder as críticas do MST, nem comentar as invasões. Em outras ocasiões, no entanto, dirigentes daquela autarquia já disseram que no governo de Luiz Inácio Lula da Silva ocorreram melhorias nos programas de crédito para assentados, construção de moradias e assistência técnica, além da expansão do número de assentamentos. Para o MST, nada disso é verdade. "As políticas do governo nessa área são tímidas e ineficientes", disse Batista. A jornada do MST, que deve se estender pelos próximos dias, não visa só o governo federal. Ela constitui também uma reação da organização ao endurecimento que estaria ocorrendo em alguns Estado contra as invasões de terras e edifícios públicos. Trata-se de um processo de criminalização dos movimentos sociais, segundo a direção nacional do movimento. "Querem tratar a questão social como caso de polícia", disse Batista. "O Ministério Público, que deveria estar ao lado desses pobres, que exigem terras para produzir alimentos, decidiu criminalizá-los." O dirigente se referia a um relatório interno do Conselho Superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul, que, em dezembro do ano passado, recomendou a extinção do MST no Estado. Posteriormente, o relatório foi desautorizado pelo mesmo conselho. Mas, segundo os sem-terra, ele sinaliza o clima de hostilidade contra o movimento naquele Estado. No momento, o mais conhecido dirigente do MST, João Pedro Stedile, enfrenta um processo na Justiça gaúcha, no qual é apontado como responsável pela depredação de um viveiro da empresa Aracruz, efetuado por mulheres da Via Campesina, em 2006. Em Belém, um dirigente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que age ao lado do MST, foi condenado à prisão por participar de uma invasão do Incra.

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