Sem-terra acampam no centro de Buritis

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Cerca de 150 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) acamparam nesta terça-feira no centro de Buritis, a 220 quilômetros de Brasília, onde prometem permanecer até o relaxamento da prisão dos 16 líderes que comandaram a invasão da fazenda Córrego da Ponte, da família do presidente Fernando Henrique Cardoso. Um dos coordenadores do movimento, Gilmar de Oliveira, garante que não haverá violência na manifestação. Ainda assim, foi armado um forte esquema de segurança na cidade. Além de a Polícia Militar acompanhar de perto os movimentos do MST, foram deslocados 20 homens do pelotão de choque de Unaí, distante 140 quilômetros. O temor das autoridades é que os sem-terra invadam a prefeitura, a exemplo do que fizeram em janeiro. Eles entraram na cidade por volta das 15h30 desta terça-feira, gritando palavras de ordem e prometendo fazer uma "manifestação pacífica de repúdio à prisão dos companheiros". Apesar da ressalva, a imagem que a maioria da população tem do movimento é negativa. Foi provocada, sobretudo, pela invasão das agências do Banco do Brasil e do Bradesco, no ano passado. Os moradores de Buritis dizem que os sem-terra urinaram nos computadores dos bancos. "Isto aqui vira a terra de ninguém", reclama a comerciante Lindaura Valadares. A segurança da fazenda de familiares do presidente Fernando Henrique também foi intensificada. Cerca de 10 soldados do Exército se revezam na vigilância da porteira principal da fazenda, por onde os sem-terra entraram no final de semana. A guarda especial do Exército, a P2, se encarrega de vigiar os arredores da propriedade e de sondar, em Buritis, os próximos passos do MST. Gilmar de Oliveira anunciou que assentados de regiões próximas vão solidarizar-se com o protesto. Mas até o final da tarde, apenas os trabalhadores da Fazenda Barriguda Um, a maior parte deles já assentados, mantinham-se no acampamento. Eles caminharam 25 quilômetros, do assentamento até Buritis. A filha e secretária particular do presidente Fernando Henrique, Luciana, permaneceu na fazenda Córrego da Ponte das 9 às 11 horas. Chegou e saiu de avião, sem dar entrevistas. O local também foi visitado pelo delegado da Polícia Federal Marcelo Oliveira, encarregado de obter dados para instruir o processo contra os 16 líderes do MST. Fez isso ouvindo o caseiro e demais trabalhadores sobre a invasão e os saques na adega e cozinha do presidente. A comerciante Lindaura Valadares diz que o MST teria invadido 13 fazendas na região, uma delas pertencente à sua família, onde permaneceu durante um ano e meio. Quando conseguiram a reintegração da posse, Lindaura diz que encontraram a propriedade, onde criavam gado, destruída. Segundo ela, não sobrou nenhum animal de criação. A chateação foi tanta que a família preferiu vender a terra. Passados três anos, ainda não apareceu comprador, mesmo o preço da propriedade tendo caído de R$ 500 mil para R$ 200 mil.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.