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Sem mandato, ?mortos muito vivos? não saem do Congresso

Ex-senador Francisco Escórcio, amigo de Renan, virou o mais famoso integrante do grupo

Por Eugênia Lopes e Rosa Costa
Atualização:

Alçado à (má) fama depois de ser apontado como "espião" do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o ex-senador Francisco Escórcio integra uma bancada de ex-parlamentares que, mesmo depois de demitidos pelas urnas, perambulam com desenvoltura pela Câmara e pelo Senado. Chiquinho Escórcio, como é conhecido, está entre os expoentes desse grupo chamado de "mortos muito vivos", maior do que algumas bancadas eleitas no ano passado. Na bancada dos ex-parlamentares que não largam o Congresso há gente que já teve cacife político considerável. E há os que freqüentam o Legislativo porque não conseguem ficar longe. Esses - diz o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO) - "parecem umas almas penadas andando por aí". A bancada dos "mortos muito vivos" é composta por ex-parlamentares que arranjaram um cargo em comissão. Um dos mais antigos a ter uma boquinha na Câmara é o ex-deputado Nilson Gibson (PSB-PE), 72 anos, lotado na assessoria técnica da Diretoria Geral, com salário de R$ 8,7 mil. "Trabalho porque preciso de dinheiro para me sustentar", afirma. Deputado federal por cinco mandatos, entre 1979 e 1999, Gibson ficou nacionalmente conhecido não por suas idéias, mas pela defesa veemente de aumento salarial e de regalias para os parlamentares. Era chamado de presidente do "sindicato dos deputados" e um dos expoentes do baixo clero. "Até hoje Lula me chama de presidente do sindicato dos deputados quando me encontra", diz. Talvez por sua fama de fisiológico e nepotista, Gibson diz que não tem aposentadoria do extinto Instituto de Previdência Complementar dos Congressistas. "Quando o instituto acabou tirei todo o dinheiro que tinha lá porque estava endividado. Por isso não tenho aposentadoria da Câmara e preciso trabalhar", argumenta o ex-deputado, ao garantir que bate ponto todos os dias e é um dos primeiros a chegar ao trabalho. Outro que arrumou emprego na Câmara depois de perder as eleições foi o ex-deputado Moroni Torgan (DEM-CE), candidato derrotado no ano passado na disputa para o Senado. Deputado federal entre 1991 e o início deste ano, Torgan tem salário de R$ 8,7 mil e trabalha no gabinete da liderança do DEM na Câmara. Mas ao contrário de Gibson, que garante não querer voltar à política, Torgan acalenta o sonho de se eleger, em 2008, prefeito de Fortaleza. Enquanto isso, o delegado da Polícia Federal ganha a vida dando consultoria ao DEM, principalmente na área de segurança. Com apenas um mandato de deputado, no início da década de 90, Sidney de Miguel (PV) circula com desenvoltura no plenário da Câmara, principalmente em dias de votação. Assim como os ex-colegas de Congresso, Sid - como é chamado - exerce o cargo de assessor técnico no gabinete da presidência da Câmara. "Vim com o Aldo Rebelo para cá", conta, referindo-se ao ex-presidente Aldo Rebelo (PC do B-SP), que comandou a Câmara entre setembro de 2005 e fevereiro deste ano. Sem modéstia, Sid desfia um rosário de cargos que ocupou nos últimos anos desde que deixou a Câmara, em janeiro de 1995. Lembra que foi secretário de Previdência no final do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e hoje é "muito ligado às centrais sindicais". "Não me aborreço por ser ex-deputado. Sempre fui mais técnico e intelectual do que político. Tenho dois doutorados na Sorbonne, em Paris. Ah, também fui da luta armada", conta o ex-parlamentar, que não descarta candidatar-se de novo. Há ainda um grupo de ex-parlamentares que circula pelo Congresso com uma missão especial: cuidar dos negócios, emendas e cargos amealhados nos muitos anos de mandato. Os dois exemplos mais explícitos dessa bancada são o ex-presidente da Câmara deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), que renunciou após ser acusado de cobrar propina do dono dos restaurantes da Casa, e do ex-líder do PMDB deputado José Borba, que também renunciou ao mandato em 2005, suspeito de envolvimento com o "mensalão".

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