Sem acordo, CPI da Petrobrás pode ficar para próxima semana

Como PMDB e PT não se entendem sobre cargos, Lula pode interferir para definição de nomes

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Por Eugênia Lopes e Tania Monteiro
Atualização:

Vinte e quatro dias depois de ter seu pedido de criação protocolado na Mesa Diretora do Senado, a CPI da Petrobrás corre o risco de não começar a funcionar nesta semana. Apesar de seus 11 titulares e 7 suplentes estarem escolhidos há 10 dias, o PMDB e o PT não conseguem fechar um acordo para definir quem será o presidente e o relator da CPI. Diante do impasse, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende interferir na definição. A CPI está prevista para ser instalada amanhã, na véspera do feriado de Corpus Christi. O assunto foi discutido ontem, na reunião da coordenação política do Planalto. Segundo o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, o presidente não quer se reunir com os líderes do PT, Aloizio Mercadante (SP), e do PMDB, Renan Calheiros (AL), para tratar da relação entre os dois partidos, cada vez mais conflituosa no Senado. "Esta é uma CPI importantíssima, que vai se realizar a um ano das eleições, e não conseguiremos fugir de que ela tem um tom político. O presidente vai conversar com os dois (líderes), mas não é para colocar panos quentes. É para obter informações e saber a estratégia deles na condução dos trabalhos. Falta apenas adequar a data, por causa da quantidade de senadores que querem participar dessa comissão, considerada muito importante", afirmou Múcio. "Se eles (governistas) não aparecerem, vão apanhar muito. Será uma desmoralização para o líder (do governo no Senado) Romero Jucá", disse ontem o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do requerimento de criação da CPI. Na semana passada, Jucá fechou acordo com os líderes da base aliada e de oposição para deixar a instalação da CPI da Petrobrás para amanhã. Jucá é um dos cotados para a relatoria do inquérito. Seu nome foi, no entanto, vetado por Renan. VINGANÇA O Planalto suspeita que o real motivo de Jucá querer a relatoria seja o desejo de vingança política por conta da demissão de seus parentes na Infraero. Há cerca de um mês, Oscar Jucá e Taciana, irmão e cunhada do líder, respectivamente, foram demitidos da estatal em Pernambuco. Além de reclamar publicamente das demissões, Jucá apresentou emenda à Constituição que estabelece que o cargo de ministro da Defesa só pode ser ocupado por funcionários de carreira. Foi uma represália à decisão do ministro Nelson Jobim de profissionalizar a Infraero, propondo a manutenção de servidores de carreira da estatal. Setores do Planalto e do PT estranham o fato de Jucá, que sempre jogou afinado com Renan, insistir em ficar no controle da CPI da Petrobrás. Além disso, ele não se movimentou para tentar abortar a CPI da Petrobrás, foi para seu Estado (Roraima), deixando toda a operação de retirada de assinaturas de aliados do requerimento de criação da comissão nas mãos de Renan e do líder do PTB, senador Gim Argello (DF). ONGS Hoje, o governo vai tentar retirar o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgilio (AM), da relatoria da CPI das Organizações Não-Governamentais (ONGs). Os governistas vinculam a saída do tucano da comissão das ONGs à instalação da CPI da Petrobrás. Na avaliação do Planalto é difícil, neste momento, desmontar a estratégia armada pela oposição na CPI das ONGs, até porque o comando total desse inquérito é o único trunfo dos oposicionistas. Com o impasse, o governo espera ganhar tempo para definir o presidente e o relator do inquérito da Petrobrás. Depois de vetar Jucá para o cargo de relator da CPI da Petrobrás, Renan indicou na semana passada que poderá trocar de posição com o PT os postos de comando no inquérito. Uma das ideias é que os peemedebistas fiquem com a presidência e os petistas com a relatoria. Nesse cenário, Paulo Duque (PMDB-RJ) seria o mais cotado para a presidência do CPI da Petrobrás. Cabe ao presidente da comissão escolher o relator. A amigos, Renan já avisou que vê com simpatia o nome do senador João Pedro (PT-AM) para a relatoria do inquérito.

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