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Secretário dos EUA quer discutir 'comércio predatório' chinês em visita ao Brasil

Mike Pompeo representará EUA na posse de Bolsonaro e terá encontro com presidente eleito para discutir expansão de comércio e investimentos com Brasil

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Por Beatriz Bulla
Atualização:

WASHINGTON - O Secretário de Estado americano Mike Pompeo, encarregado de liderar a delegação americana que comparecerá à posse de Jair Bolsonaro, em 1º de janeiro, terá um encontro com o presidente eleito e com o futuro ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em Brasília. Na reunião, Pompeo pretende discutir o “comércio predatório” da China em países da região e definir prioridades na agenda de cooperação entre EUA e Brasil para 2019.

Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro fez críticas às práticas comerciais dos chineses, ao dizer que eles estariam “comprando o Brasil”. Desde a eleição, o futuro governo Bolsonaro tem feito gestos de aproximação dos Estados Unidos, país que encampou uma guerra comercial com a China ao longo de 2018. Atualmente, a China é o maior parceiro comercial do Brasil. Os EUA vêm em segundo lugar, mas a intenção é estreitar os laços com o novo governo brasileiro.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, durante encontro da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) em Cingapura Foto: EFE/EPA/Wallace Woon

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“A relação do Brasil com a China é uma decisão de soberania do Brasil, mas notamos alguns comentários do presidente eleito sobre a preocupação dele a respeito do papel da China no Brasil e essa é uma conversa que temos no hemisfério ocidental – que tivemos no Panamá, que tivemos com o Canadá, com o México. Essa é uma questão em andamento”, afirmou fonte do Departamento de Estado nesta sexta-feira, segundo quem Pompeo “tem sido claro no sentido de que os EUA estão mais do que felizes de competir no mesmo nível que as empresas chinesas, só queremos ter certeza de que há de fato um mesmo nível e que os chineses façam coisas que terminem sendo do interesse do país no qual eles estão investindo”.

A eleição de Bolsonaro tem sido classificada por autoridades americanas como uma “oportunidade histórica” de aproximação entre Brasil e Estados Unidos. No encontro com Bolsonaro, os americanos pretendem falar sobre expansão de comércio e investimentos especialmente nas áreas de tecnologia, defesa e agricultura, além de "trabalhar com o Brasil de forma multilateral” para reforçar “o respeito à soberania” dos países.

“Estamos ansiosos para construir uma relação mais forte com o Brasil em questões bilaterais, assuntos regionais e ao redor do mundo”, afirmou fonte do departamento de Estado ao comentar a viagem de Pompeo para a posse de Bolsonaro.

Os americanos também pretendem saudar Bolsonaro pela decisão de mover a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, seguindo o movimento dos EUA. “Estamos ansiosos em acolher muitos outros dos nossos amigos e aliados em Jerusalém”, afirmou fonte no Departamento de Estado. Pompeo e o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, que também estará em Brasília para a posse, devem se encontrar no País, mas ainda não há definição de agenda.

A viagem de Pompeo ao Brasil segue outras visitas do alto escalão americano ao País em 2018, como a do vice-presidente americano, Mike Pence; do secretário de Defesa, James Mattis; e, recentemente, do assessor de Segurança da Casa Branca, John Bolton, que se encontrou com Bolsonaro. Ao visitar o presidente eleito, no Rio de Janeiro, Bolton convidou Bolsonaro para uma visita aos Estados Unidos. Autoridades americanas esperam que o país seja escolhido pelo presidente brasileiro para sua primeira visita oficial, ainda no início de 2019.

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Pompeo também irá incluir na agenda do encontro com Bolsonaro e Ernesto Araújo questões sobre Venezuela, Nicarágua e Cuba - o que já foi chamado por John Bolton de 'troica da tirania'. “Os Estados Unidos esperam trabalhar com o Brasil para apoiar os povos desses países que estão lutando para viver em liberdade, contra esses regimes repressivos”, afirma fonte no Departamento de Estado.

Preocupações levantadas pela comunidade internacional por declarações de Bolsonaro a respeito de temas ligados a democracia e direitos humanos são vistas no Departamento de Estado americano como questões ligadas a “declarações antigas, feitas há muitos anos atrás” pelo presidente eleito do Brasil. “O que vemos nesse momento, desde que ele foi eleito pelo povo brasileiro, é alguém com vigorosa abordagem de direitos humanos, particularmente na região”, afirma integrante do Departamento de Estado, ao dizer que Bolsonaro tem defendido “liberdade, democracia e direitos humanos” em países como Cuba, Venezuela e Nicarágua.

No Brasil, Pompeo também se encontrará com o presidente do Peru, Martín Vizcarra, peça chave no chamado Grupo de Lima, que tem condenado o regime de Nicolás Maduro na Venezuela. Pompeo chega a Brasília no dia 31 e, depois da posse e das reuniões no dia 1º, segue para Cartagena, na Colômbia, para um encontro com o presidente Iván Duque.

Pompeo será acompanhado em Brasília pelo diretor-geral da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês), Mark Green; o encarregado interino de Negócios da Missão Diplomática dos EUA no Brasil, William Popp; e o diretor do Conselho para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Mauricio Claver-Carone.

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