'Se o presidente Lula abusar, cabe à Dilma controlar', diz FHC sobre ministérios

Ex-presidente acredita que atual mandatário está interferindo demais na formação do governo

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Por Anne Warth e da Agência Estado
Atualização:

SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse nesta sexta-feira, 3, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está interferindo demais na formação da equipe de ministros da presidente eleita, Dilma Rousseff. Porém, ponderou que cabe a ela limitar os abusos que Lula cometer . "O presidente Lula sempre me criticou porque dizia que eu me metia demais na política depois da presidência. Agora e ele quem está se metendo demais", disse, após participar da inauguração do Orquidário Professora Ruth Cardoso no Parque Villa Lobos, na Capital paulista.

 

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"Mas deixa ele fazer, ainda acho que os outros é que tem de limitar. Se o presidente Lula abusar, cabe à Dilma controlar. Mas esse é o temperamento do Lula. Ele critica os outros e faz a mesma coisa", alfinetou o ex-presidente tucano. FHC ficou muito emocionado com a homenagem feita à esposa, que faleceu em junho de 2008, e que dá o nome ao orquidário inaugurado pelo governador de São Paulo, Alberto Goldman.

 

Fernando Henrique disse ser normal sentir falta da Presidência depois de deixar o cargo. Ele evitou dar conselhos a Lula, que deixará o cargo em menos de 30 dias. Mas, citou sua experiência como ex-presidente assim que deixou o posto. "O Lula me deu tantos conselhos que acho melhor não dar nenhum. Não quero me meter a ser conselheiro do rei e nem do antigo rei, não é meu papel", afirmou.

 

O tucano contou que, assim que deixou a Presidência, viajou com sua mulher Ruth Cardoso para a Europa. "Sem assessor, sem seguranças e sem automóvel, sem nada. Você agora é um cidadão como os outros", disse. Segundo ele, existem vantagens em deixar o Palácio do Planalto e 'descer a planície". "Agora, estou mais livre, tenho a possibilidade de andar sem gravata entre o pessoal engravatado, o que deixa muito feliz", afirmou. "O Lula também anda sem gravata, é verdade. Quem sabe agora, ele use fraque", ironizou.

 

Sobre os nomes dos ministeriáveis da equipe de Dilma, FHC afirmou não ver nenhuma surpresa. "Não me parece um governo agressivo e acho até melhor que seja assim, por enquanto é a copa e a cozinha. Vamos esperar." Em relação às negociações do novo governo para acomodar os partidos aliados, o ex-presidente afirmou considerar as articulações normais, mas questionou os reais objetivos. "O importante não é isso, importante é: qual é o programa, para onde é que a gente vai. Quando nos aliamos com alguém, ou é pra fazer alguma coisa e Lever outras adiante, ou é só distribuição de cargos. Se for só distribuição de cargos, é algo que só interessa aos que vão recebê-los e não ao povo. Se for para ajudar o País, é isso que precisa."

 

A respeito da refundação do PSDB, ele disse não acreditar na possibilidade de refundar a legenda. "Não é questão de refundação, tem de revitalizar. Todos os partidos, depois de vários anos e tantas lutas, tem que pensar um pouco no que fez, para onde vai, quem são e qual é o futuro. Acho positivo", afirmou. "Agora, refundar, fundar de novo, não é possível. Já está fundado. E um partido dá um trabalho que vocês não imaginam. Fazer outro? Deus me livre."

 

Serra

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O candidato derrotado à Presidência da República José Serra (PSDB) também participou da inauguração do Orquidário Ruth Cardoso, mas evitou a imprensa. "Só quero falar de orquídeas", disse. "Me deixem curtir o meu sabático."

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