O Ministério da Saúde ameaça interromper o repasse dos recursos de Saúde para o governo do Estado do Rio de Janeiro, caso o governador Anthony Garotinho não explique por que não gastou nenhum centavo dos R$ 11 milhões transferidos ao Estado pela União desde 2000 para combater endemias - doenças tropicais, como dengue, febre amarela, malária, etc. O dinheiro faz parte do Teto Financeiro de Epidemiologia e Controle de Doenças, um fundo com verba enviada todos os meses para os Estados e municípios. Para o Estado do Rio, o ministério repassa, desde junho de 2000, cerca de R$ 500 mil por mês. De lá pra cá, o governo do Rio acumula cerca de R$ 11 milhões, o total das transferências mais os juros de aplicações no sistema financeiro. Funasa acusa Garotinho "Está parecendo que, em vez de se preocupar com a dengue, o governador Garotinho está mais interessado em ganhar dinheiro com aplicações", ironizou Mauro Costa, presidente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), órgão do ministério responsável pelos repasses. Segundo a Funasa, 90% dos R$ 11 milhões deveriam ter sido usados para prevenir epidemias de dengue. O Rio vive a segunda maior epidemia da história - o último balanço do Estado contou 18 mil casos da doença, 242 hemorrágicos e sete mortes. "E tenho certeza de que a epidemia poderia ter sido minimizada, se o Estado tivesse agido antes", critica Costa, que está no Rio organizando uma megaoperação de combate ao mosquito, que envolve 1.044 agentes de outros Estados e 500 soldados do Exército. Advertências Garotinho já foi advertido duas vezes pelo ministério, uma em novembro de 2001, e a última no fim do mês passado. Agora, caso não receba resposta, a Funasa pretende encaminhar um pedido de punição do governo do Rio à comissão gestora do Sistema Único de Saúde, que analisa e decide se o Rio deve ser punido. Além de ser descredenciado e perder o repasse, o governo pode ser obrigado a devolver os R$ 11 milhões. O secretário estadual da Saúde, Gilson Cantarino, afirmou nesta quinta-feira ao Estado que, em dezembro, enviou ao ministério um relatório explicando o destino dos R$ 11 milhões. Vacinação Segundo ele, a verba foi acumulada para pagar o fornecimento de seringas e agulhas de todas as campanhas de vacinação de todo o ano de 2002 - as campanhas de vacinação também podem ser financiadas com recursos dessa verba. "Tínhamos que acumular primeiro, para fazer uma licitação e comprar todo material necessário", disse o secretário. Ele afirmou que, para o combate à dengue, o Estado comprou carros, microscópios e bicicletas para vários municípios. "Optamos por gastar os R$ 11 milhões principalmente com vacinação, até porque controle de focos é responsabilidade dos municípios", explicou. Cantarino acusou o ministério de "estar fazendo uso político de informações distorcidas" e de ter, ele próprio, acumulado R$ 23 milhões que deveriam ter sido usados para o combate à dengue em 2001. "O ministério está jogando com palavras. Essa é uma briga política, o que é péssimo para a população. Mas quem começou essa briga foi o próprio ministro Serra." Em nota divulgada nesta quinta-feira, o governador afirma que já enviou os R$ 11 milhões aos municípios. "O ministro está mentindo para livrar-se da reponsabilidade pela epidemia. O culpado da dengue se chama Serra, que demitiu mais de cinco mil mata-mosquitos." Recomendações A secretaria municipal de Saúde do Rio continua pedindo aos turistas que pretendem passar o carnaval na cidade para usar repelente (a cidade registrou até esta quinta-feira 6.766 casos de dengue). Folhetos informativos já foram distribuídos em hotéis e em pontos turísticos. Segundo Jair Duarte, especialista em dengue e consultor da secretaria, quem quiser acabar com o mosquito dentro de casa pode, além de evitar acumular água nas plantas, usar inseticida dentro de casa. "Sprays e aparelhos elétricos funcionam bem contra o Aedes, mas a aplicação deve ser feita durante o dia", aconselha Duarte. "É importante ainda conversar com os vizinhos e, com isso, tentar acabar com focos não só dentro de casa mas nas redondezas.?