PUBLICIDADE

Sarney nega elo com nomeado e é desmentido

PSOL expõe prova de que senador conhece agraciado com cargo

Por Leandro Colon , Rosa Costa e BRASÍLIA
Atualização:

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), reuniu argumentos ontem para rebater novas acusações de ter mentido em plenário - o que pode caracterizar quebra de decoro parlamentar. Sarney atribuiu a um homônimo do genro de Agaciel Maia, Rodrigo Cruz, o fato de na véspera ter declarado na tribuna que não o conhece. Em nota divulgada ontem por sua assessoria de imprensa, Sarney disse que, na verdade, se referiu a outra pessoa, chamada "Rodrigo Miguel Cruz". Segundo o senador, o rapaz seria ex- funcionário de Roseana Sarney e seu nome é o que aparece na representação protocolada pelo PSOL no dia 30 de junho. "É este que está relacionado na denúncia do PSOL, que se baseia em O Estado de S. Paulo", informa a nota. Os documentos, contudo, desmentem a versão do senador. A representação do PSOL não cita nenhum "Rodrigo Miguel Cruz". Na página 4, está o nome de "Rodrigo Cruz" e uma referência a um endereço do portal estadao.com.br com a lista de apadrinhados e parentes de Sarney envolvidos em atos secretos. Ao acessar o nome de "Rodrigo Cruz"no site, surge a descrição de que ele é a pessoa que se casou com Mayanna Maia, filha de Agaciel, no dia 10 de junho. Sarney foi padrinho do casamento. Reportagem publicada pelo Estado no dia seguinte à festa revelou que o noivo ganhou emprego no Senado por meio de ato secreto. Rodrigo Cruz foi nomeado em 19 de janeiro de 2006. Trabalhou no gabinete de Maguito Vilela e na Secretaria Especial do Interlegis. O "Rodrigo Miguel Cruz" citado por Sarney trabalhou entre 2003 e 2007 no gabinete de Roseana e do então senador e hoje ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA). Ele não aparece em atos secretos, nem na representação do PSOL. Ontem, em plenário, o senador José Nery (PSOL-PA) afirmou que Sarney pode ter quebrado o decoro parlamentar novamente. "O senador Sarney faltou com a verdade", disse. Irritado, Sarney chegou a levantar a suspeita de que o PSOL possa ter fraudado a representação para incluir o endereço do estadao.com.br. Nery pediu respeito a Sarney e exigiu que o Conselho de Ética comprove que não houve alteração no documento. ?FARSA? Signatária da representação contra Sarney, a presidente do PSOL, Heloísa Helena (AL), chamou ontem de "farsa" a versão apresentada por Sarney. Segundo ela, a "amnésia" do senador foi intencional, já que a reportagem do Estado a que se refere a representação informa que o genro de Agaciel foi nomeado por ato secreto - e não Rodrigo Miguel Cruz. "Os que legitimam o aparelho patrimonialista dizem o que bem entender", afirmou Heloísa. "Contam que não leram o que estava escrito e fica tudo na mesma." Não é a primeira vez que Sarney se confunde nas explicações. Sua assessoria divulgou três notas diferentes para esclarecer a omissão de uma casa R$ 4 milhões na declaração de bens à Justiça Eleitoral. Na última versão, atribui a responsabilidade a um contador, que teria esquecido de incluir o imóvel na declaração. Em outro episódio, Sarney afirmou que não tinha responsabilidade administrativa com a Fundação José Sarney, suspeita de desvios de verba da Petrobrás. Reportagem do Estado mostrou que ele é presidente vitalício da entidade, conforme o estatuto da própria fundação. CRISE NO LEGISLATIVO Nepotismo cruzado No discurso de anteontem, senador José Sarney omitiu a contratação de parentes feita com ajuda de aliados políticos NEPOTISMO A versão de Sarney "Acusam-me de nepotismo. Essa é a grande acusação que me é feita. Há 55 anos no Congresso, nunca adotei a norma de chamar parentes para a minha assessoria" As nomeações dos familiares de Sarney que vieram à luz ao longo da crise ocorriam, quase sempre, em gabinetes de aliados e em outras seções do Senado NOMEAÇÃO DO NETO A versão de Sarney "João Fernando Sarney. Aqui no Senado - todos nós sabemos -, não se nomeia para o gabinete quem não for requisitado para nomear pelo senador. Está aqui a requisição ao diretor-geral, do senador Epitácio Cafeteira, que já teve a oportunidade de confessar que não me disse que tinha nomeado" João Fernando Sarney é neto do senador, embora ele não tenha utilizado a palavra "neto" ao referir-se ao jovem. João Fernando é filho de Fernando, primogênito do senador. O parlamentar também não se refere ao fato de que João Fernando era funcionário fantasma no Senado, lotado no gabinete de Cafeteira, muito ligado ao clã A SOBRINHA A versão de Sarney "Vera Portela Macieira Borges. Realmente, é sobrinha, por afinidade, minha. Eu requisitei do Ministério da Agricultura para a presidência e pedi ao senador Delcídio (Amaral) que a colocasse no gabinete em Mato Grosso, porque ela tinha se casado" Vera Macieira foi nomeada, inicialmente, para o gabinete do próprio Sarney. Como mora em Campo Grande (MS), foi formalmente transferida depois, a pedido do próprio Sarney, para a cota de assessores do senador Delcídio Amaral (PT-MS). No escritório de Delcídio em Campo Grande, porém, ela não aparecia para trabalhar A SOBRINHA DO GENRO A versão de Sarney "Isabella Murad Cabral Alves dos Santos. Também não é minha parenta. Foi nomeada pelo senador Cafeteira, que, segundo me afirmou, foi a pedido do sr. Eduardo Lago, que é primo do governador do Maranhão, que era meu adversário, e não por mim" Sarney não disse, mas Isabella é sobrinha de seu genro, Jorge Murad. Ele apontou o parentesco do empresário Eduardo Lago com adversários seus na política maranhense. Lago, entretanto, é ligado à família Sarney. A Polícia Federal investiga depósitos feitos por ele, às vésperas da campanha eleitoral de 2006, em contas controladas pelo filho de Sarney, Fernando A PRIMA DO GENRO A versão de Sarney "Virgínia Murad Araújo. Também nomeada para o gabinete da Senadora Roseana Sarney. Cada um de nós é senador pelo seu Estado e naturalmente recruta, tem essa liberdade de recrutar quem deve trabalhar com ele. Meu Estado é o Amapá" Virgínia Murad Araújo é prima de Jorge Murad, genro de Sarney. O senador foi eleito pelo Amapá, mas seu poder político se concentra principalmente no Maranhão A CUNHADA A versão de Sarney "Shirley Duarte Pinto de Araújo. Também era do gabinete da senadora Roseana Sarney. Não era do meu gabinete. Não foi requisitada para nomear por mim" Sarney não diz, mas Shirley Araújo é sua cunhada. É casada com Ernane Sarney, irmão do parlamentar O AFILHADO A versão de Sarney "Rodrigo Cruz também não sei quem é. Incluíram como se fosse nomeado por mim" Rodrigo Cruz é genro do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia. Casou-se em 10 de junho com a filha de Agaciel, Mayanna. Sarney foi padrinho do casamento A FILHA DO AMIGO A versão de Sarney "Nathalie Rondeau também não é minha parenta. Não tenho nenhuma ligação de parentesco com ela." A modelo Nathalie Rondeau é filha do ex-ministro das Minas e Energia Silas Rondeau, seu apadrinhado político. Nathalie foi nomeada para o Conselho Editorial do Senado, presidido pelo próprio José Sarney O IRMÃO A versão de Sarney "Perdão, eu pulei Ivan Sarney. Ivan Sarney trabalhou aqui dois anos. Em 2003, 2004 e 2005, Ivan Sarney trabalhou aqui dois anos - em 2003 ou 2004, não me lembro, 2005 -, no gabinete do senador João Alberto" Ivan Sarney é irmão de José Sarney. E o ex-senador João Alberto é aliado de primeira hora do clã Sarney na política maranhense. Hoje, Alberto é o vice da governadora Roseana Sarney (MA) O ASSESSOR DO FILHO A versão de Sarney "Fausto Rabelo Consendey também não conheço. Não sei onde trabalha, nem que é meu parente ou que tenha sido nomeado por mim" É ex-assessor do deputado Zequinha Sarney (PV-MA), filho do presidente do Senado. Também trabalhou para a empresa de Adriano Sarney, neto do senador, que operava crédito consignado na Casa O NAMORADO DA NETA A versão de Sarney "Acusaram-me, numa campanha pessoal, de favorecer o namorado da minha neta por um ato secreto, nos trechos dos diálogos divulgados de maneira ilícita" Gravações da Polícia Federal autorizadas pela Justiça revelam conversas em que Sarney recebe pedido do filho Fernando para empregar Henrique Dias Bernardes no Senado. Na época, ele namorava uma neta do senador. A nomeação foi por ato secreto O ALIADO DO AMAPÁ A versão de Sarney "Luiz Cantuária, também não sei quem é Luiz Cantuária" É político do Estado do Amapá, ligado ao senador. Foi nomeado, dentro do Senado, para uma vaga no Conselho Editorial, responsável pela análise dos livros que são impressos e palco de nomeações secretas. Sarney também preside esse colegiado

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.