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Sarney intervém na comunicação do Senado

Irritado com atuação da TV e da rádio da Casa, ele escala braço direito para comandar área

Por Leandro Colon e BRASÍLIA
Atualização:

Incomodado com as transmissões da TV Senado, o presidente José Sarney (PMDB-AP) decidiu nomear seu assessor e braço direito Fernando César Mesquita para dirigir a Comunicação Social da Casa. A decisão ocorre 12 dias após Fernando Sarney, filho do senador, conseguir uma liminar na Justiça para proibir o Estado de divulgar gravações feitas pela Polícia Federal com autorização judicial numa investigação contra ele. A iniciativa de Sarney faz parte da estratégia para controlar a burocracia administrativa do Senado e ter o apoio da maioria dos servidores em meio ao desgaste político com senadores. Ontem, o Estado revelou que o senador manteve as gratificações incorporadas aos salários de funcionários por meio de atos secretos. Agora, Sarney tenta evitar que facções de servidores contrárias a seu mandato na presidência tenham espaço na estrutura de comunicação da Casa. Nas últimas duas semanas, Sarney reclamou com assessores da atuação da TV e da Rádio Senado. Na avaliação dele, as transmissões davam mais espaço às denúncias contra ele e brigas em plenário do que às medidas administrativas anunciadas para conter a crise. Um primeiro movimento de reação começou na quinta-feira da semana passada. A TV Senado chegou a interromper, por alguns segundos, a transmissão do bate-boca entre Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Renan Calheiros (PMDB-AL). No lugar, botou um programa sobre saúde mental. Mesquita foi avisado do novo cargo na segunda-feira. O setor de comunicação cuida também do Jornal do Senado, do site e da relação institucional com a imprensa. Assessor parlamentar da presidência do Senado, ele substituirá Ana Lúcia Novelli, servidora de carreira, que estava no cargo desde 30 de abril. Mesquita trabalha com o senador há 25 anos. No governo Sarney, foi presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e governou o arquipélago de Fernando de Noronha, quando ainda era um território. Atua no Senado também como articulador político. Em conversas reservadas, é uma das poucas pessoas que referem-se a Sarney como "Zé". Mesquita já foi diretor de Comunicação do Senado na primeira gestão de Sarney. Ontem, ele negou que sua nomeação seja uma intervenção de Sarney nas transmissões da TV e da Rádio Senado. Mas adotou o discurso de que, a partir de agora, haverá "isenção". "Os critérios básicos são de isenção, lisura, total transparência, sem privilégios a quem quer que seja", afirmou. "Agora, o que quero é que seja cumprido exatamente o que foi programado desde o começo: se um senador tem um espaço, o senador contrário tem de ter o mesmo espaço", ressaltou. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), interpelou Sarney em plenário sobre o assunto. O presidente alegou ter trocado a diretoria de comunicação em razão da reforma administrativa que será efetuada após o estudo da Fundação Getúlio Vargas. Segundo Sarney, seu assessor é "o melhor homem que podia comandar essa reforma neste momento de modificações tecnológicas". O senador negou insatisfação com o trabalho jornalístico dos órgãos do Senado. É a segunda vez que Sarney troca de diretor da área desde que assumiu a presidência do Senado, em fevereiro. Elga Teixeira Lopes perdeu o cargo de diretora de comunicação após a revelação de que fez campanhas eleitorais - inclusive para a família Sarney - sem pedir licença do Senado.

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