Sarney diz a Lula que não renuncia nem pede licença da presidência

Presidente do Senado insiste na tese de que PSDB e DEM estão tirando proveito da crise para controlar Legislativo

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Por Leonencio Nossa
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O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foi ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, para dizer que não pedirá licença, nem renunciará ao comando da Casa. Feliz com a contundência de Lula em sua defesa junto ao PT, Sarney conversou por quase duas horas com o presidente. E aproveitou o encontro no Centro Cultural Banco do Brasil, sede provisória da Presidência, para mandar um recado à base governista. Disse que vai liderar o saneamento administrativo do Senado, conduzindo a Casa a um "processo de normalidade", com apoio da base e de "quem mais estiver interessado". A tranquilidade do presidente do Senado foi manifestada em meio ao agravamento da crise, iniciada com o escândalo da edição de atos secretos na Casa, revelado pelo Estado. O quadro já se havia complicado com a notícia de que um mordomo de sua filha, a governadora Roseana Sarney (PMDB-MA), era pago pelo Senado e que seu neto, José Adriano Cordeiro Sarney, operava crédito consignado na Casa. Ontem, a novela ganhou mais um episódio, com outra revelação do Estado, de que Sarney omitiu em declarações à Justiça Eleitoral a propriedade de uma casa de R$ 4 milhões na Península dos Ministros, no Lago Sul, em Brasília. Ainda assim, a conversa de Sarney com o presidente deu tranquilidade à cúpula do PMDB. Um dirigente do partido disse que Lula deixou claro que se encarregará de administrar o PT. Segundo ele, a prova maior de que a conversa foi "muito boa" é a atitude do próprio Sarney. O peemedebista, disse o dirigente, estava disposto a renunciar se o PT não fosse enquadrado e o resultado da reunião não lhe fosse favorável. Com mais de 50 anos de vida política, Sarney fez tudo o que Lula já havia combinado na véspera com ministros e líderes do PT e do PMDB. O próprio presidente se encarregou de deixar claro à bancada petista que não aceitava a licença ou renúncia de Sarney e que a crise no Senado era política. O encontro de Sarney com o presidente estava previsto desde o início da semana, mas só foi fechado na manhã de ontem, após Lula acertar com a bancada petista apoio ao aliado. Na reunião, Sarney insistiu na tese de que a oposição tira proveito da crise, a exemplo do que o próprio Lula afirmara na véspera aos senadores petistas. Interlocutores do governo propagaram ontem, à exaustão, a ideia de que Lula tem as rédeas do processo político no Senado e influência para evitar o afastamento de Sarney. Nas conversas com colaboradores mais próximos, porém, Lula reconhece que as ondas de denúncias são imprevisíveis. Também avalia que falta compreensão política da crise por parte dos senadores petistas. Para um auxiliar próximo do presidente, até agora o PT não entendeu que os partidos de oposição "jogam para a plateia". A tese é de que é hora de o PT fazer política. A cobrança se apoia no fato de o comando do Senado ir para as mãos do tucano Marconi Perillo (PSDB-GO), caso Sarney se afaste. Sobre a denúncia de que o peemedebista omitiu a casa em Brasília da Justiça Eleitoral, o auxiliar do presidente disse que a questão ainda tem de ser avaliada. No encontro com Lula, Sarney apresentou um documento que enumera 36 ações adotadas pela Comissão Diretora para dar eficiência e transparência às decisões administrativas do Senado. O documento destaca uma economia de aproximadamente R$ 10 milhões por ano nos dois primeiros contratos de fornecimento de mão de obra; a mudança na regulamentação das cotas de passagens aéreas dos senadores, com economia de 30%; a redução em 10% das despesas gerais do Senado; redução da taxa de juros dos empréstimos consignados para patamar máximo de 1,6% ao mês; e a solicitação à Polícia Federal para que investigue os empréstimos consignados.

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