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Saques no Opportunity se igualam aos da crise de 2004

Pesquisa de site especializado contabiliza retirada de R$ 1,8 bi em 10 dias

Por Monica Ciarelli (Broadcast) e RIO
Atualização:

Os saques nos fundos de investimento do Grupo Opportunity já somam mais de R$ 1,8 bilhão desde que a Operação Satiagraha da Polícia Federal (PF) foi deflagrada, com a prisão da cúpula do grupo, no último dia 8 de julho. Segundo a PF, o Opportunity fazia parte de esquema de desvio de recursos públicos, lavagem de dinheiro e uso de informação privilegiada, entre outros crimes. Ao todo, foram expedidos 24 mandados de prisão e 56 de busca e apreensão. Entre os presos estiveram o sócio-fundador do grupo, Daniel Dantas, o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta. Os dados sobre os saques nos fundos são do site Fortuna, especializado no setor e que usa informações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Associação Nacional de Bancos de Investimentos (Anbid). A pesquisa contabilizou todos os pedidos de resgate feitos pelos clientes até o dia 18, último informativo divulgado pelo Opportunity. Pelos números do site, os saques já representam 11,7% dos ativos antes da ação da polícia. As perdas registradas nos últimos dias já atingiram o mesmo patamar de 2004, quando Dantas foi indiciado pela Polícia Federal na Operação Chacal. Na época, os saques dos fundos da instituição chegaram a atingir entre 10% e 15% do patrimônio total nos 90 dias seguintes ao anúncio do indiciamento. A Operação Chacal investigou o esquema de suposta espionagem industrial durante a briga entre o Opportunity e a Telecom Italia pela Brasil Telecom (BrT). Apesar das saídas terem somado R$ 1,8 bilhão, o patrimônio dos fundos do grupo encolheu ainda mais - R$ 2,01 bilhões - por conta das perdas registradas pela Bolsa de Valores de São Paulo em julho. No período, o principal índice do pregão paulista, o Ibovespa, amarga queda de 8,3%. O fraco desempenho do mercado de capitais afetou em cheio a rentabilidade dos ativos do Opportunity, que tem 62,3% do patrimônio da gestora de recursos aplicado em fundos de ações. MAIORES PERDAS Os dados do site mostram ainda que os resgates somaram em média R$ 260 milhões nos primeiros cinco dias após a operação e caíram para R$ 119 milhões nos três dias seguintes. No último dia 18, porém, voltaram a subir e atingiram R$ 215 milhões. As maiores perdas, segundo o Fortuna, foram verificadas nos fundos de curto prazo. Do R$ 1,8 bilhão que já saiu do Opportunity, mais de R$ 1 bilhão foi contabilizado por esse tipo de aplicação. Já a fuga de investidores dos fundos de ações foi pequena ao somar R$ 196 milhões no mesmo período. Os multimercados tiveram saída de R$ 685 milhões desde que a Operação Satiagraha foi deflagrada. O sócio-fundador do grupo é apontado pela PF como um dos chefes do esquema investigado, ao lado de Naji Nahas. Alvo de ordem de prisão expedida pelo juiz federal Fausto Martin De Sanctis, Dantas não ficou preso por muito tempo, beneficiado por habeas corpus concedido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. De Sanctis chegou a pedir nova prisão de Dantas, mas novo habeas corpus do ministro o soltou. O vaivém de decisões judiciais abriu crise entre as instâncias do Judiciário e provocou debate também no Palácio do Planalto - enquanto o ministro da Justiça, Tarso Genro, defendia a operação da PF, Mendes a criticava, acusando a polícia de cometer abusos.

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