O dia de São Francisco, celebrado ontem, não passou em branco no Congresso. Uma semana depois de o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) pedir ao governo um "chinelinho novo" para apoiar o governo, o deputado Chico Alencar (RJ), líder do PSOL, fez uma releitura profana da oração atribuída ao "Poverello de Assis". Não foi só: indignado com Salgado, que disse engrossar as fileiras dos "franciscanos", ele registrou o pronunciamento na Câmara. "Eu pretendia ler, mas a sessão caiu por falta de quórum", afirmou Alencar, antes da hora do almoço, quando muitos de seus pares já haviam deixado a capital federal. De sua lavra, a "oração" de São Francisco ganhou um refrão adaptado aos novos tempos da política: "Ó chefe/ fazei que eu procure mais/ cargos que encargos/verbas que o bom verbo/meus próprios bens que o bem comum/pois é dando que se recebe/ é votando que se é contemplado/e é aderindo que se conseguem mandatos/ por esta boa vida eterna." Ex-petista e um dos algozes do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Alencar distribuiu cópias da "oração" revisitada aos parlamentares que encontrou pela frente no Congresso, do Salão Verde ao Azul, e chegou até a cantarolar alguns versos. Uns riram, outros fecharam a cara. Embora o governo distribua cargos e emendas ao PMDB e outros partidos aliados, na desesperada tentativa de esticar a validade da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) até 2011, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também adota semblante de contrariedade quando a oposição critica a barganha. A prática, no entanto, é velha conhecida do mundo político. Nos anos 80, o então deputado peemedebista Roberto Cardoso Alves, líder do Centrão , invocava sem cerimônia o "é dando que se recebe" no varejo das negociações com o governo de José Sarney, um adversário de Lula que virou aliado de primeira hora. De lá para cá, como se vê, pouca coisa mudou.