Saito afirma que cabe a Lula decisão sobre desmilitarização

Comandante da Aeronáutica evitou se posicionar, em audiência no Senado, a favor ou contra a separação entre militares e civis no controle de tráfego aéreo do País

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Duas horas depois de ter se reunido com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Planalto, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, recuou nesta quinta-feira de declarações dadas na véspera e evitou polemizar sobre a desmilitarização do controle do tráfego aéreo com o ministro da Defesa, Waldir Pires. "Ainda hoje o presidente disse que a decisão vai ser dele. Então, vamos aguardar", disse Saito. Na nova maratona de discussão sobre o apagão aéreo, desta vez na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, o discurso de ambos era bem mais afinado se comparado ao "duelo" que travaram nas quase seis horas de audiência, na Câmara, na quarta-feira. Saito desconversou ao ser questionado pelos senadores se era a favor ou contra o comando do tráfego aéreo se tornar civil. O brigadeiro, no entanto, fez questão de defender o atual sistema militar. "Posso garantir que ele funciona bem. Mas, na hora de separar, vai ser preciso levar em consideração os investimentos que foram feitos e o tempo necessário para isso", afirmou o brigadeiro, sinalizando que a desmilitarização continua no radar do governo. Diante da insistência dos senadores em ouvir sua opinião, Saito esquivou-se: "Na hora que ele (o presidente) determinar que for civil, ele vai falar de equipamentos e do tempo", completou. Pires também cauteloso O ministro da Defesa, também mais cauteloso, declarou que "esta é uma decisão de Estado e só o presidente da República pode tomá-la". Em seguida, lembrou que esta mudança depende de aprovação do Congresso, mas reiterou o que dissera no dia anterior: "no mundo inteiro é assim (controle de aviões civis feito por civil)". Diante da insistência dos senadores sobre quando isso aconteceria, respondeu: "na hora propícia vamos tê-la para que a transição se dê rapidamente". O brigadeiro assegurou que "não há divergência" entre ele e o ministro em relação à separação do tráfego civil do militar. A poucos metros do presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo, Jorge Botelho, o brigadeiro Saito, ao falar do cenário que o mundo vislumbra para a próxima década no controle do tráfego aéreo, sugeriu que a tendência é que a tecnologia ocupe o espaço dos controladores, que estão brigando pela desmilitarização. "No futuro, os pilotos não precisarão mais comunicar, via telefonia, as suas posições ou fazer qualquer questionamento aos órgãos de controle", avisou o comandante, ao falar sobre o sistema CNS/ATS, por meio de satélite. "Todo o sistema será montado em cima de dados e não mais de vozes, tanto na navegação, quanto nas comunicações e, desde o taxiamento, a aeronave será monitorada por este sistema, assim como no pouso. Tudo por dados", comentou ele, acrescentando que o sistema de vigilância de radar também será automatizado. Buraco Negro Apesar de insistir que não existe buraco negro, como afirmara na véspera, o comandante da Força Aérea admitiu ontem para os senadores que "o que pode existir são lacunas abaixo do nível 300, em torno de 10 mil pés", mas que estas lacunas "são controladas". "É maldade dizer ou comparar (a segurança de vôo do Brasil) à da Comunidade Africana", desabafou o brigadeiro, reconhecendo, agora, que existem problemas e que "as falhas de equipamentos são pontuais". Mas repetiu que os equipamentos dos Cindactas "são modernos". Para o comandante, no entanto, "o verdadeiro e maior problema é a falta de controladores". E emendou: "o nosso gargalo hoje são os controladores de vôo". Ele prometeu, no entanto, que até o final do ano, mais de 500 entrarão no sistema para se somar aos 2300 controladores da FAB. Embora não tenha falado em reabertura de negociações com os controladores militares, como pediu Jorge Botelho, o comandante ofereceu a possibilidade de eles poderem ascender mais um posto, até coronel, caso tenham feito curso superior. No caso dos civis, tentou afagá-los avisando que até o final do mês estará concluído o estudo para que eles possam ter atendimento de saúde em hospitais militares. Mas não falou nada sobre as gratificações prometidas. Na audiência, o diretor do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), brigadeiro Ramon Cardoso, aproveitou para isentar os controladores que estavam sendo acusados de sabotagem no caso das inúmeras panes apresentadas pelo sistema, justificando que os problemas ou foram técnicos ou provocados por erro humano. "Não houve sabotagem", assegurou. Crise vem ´há muito tempo´ Desta vez Pires abandonou o discurso de que os problemas no tráfego aéreo começaram com o acidente da Gol. Pires citou os problemas da Varig, como exemplo de que a crise vem de muito mais tempo. "A crise se torna evidente com o acidente. O ministro reiterou, no entanto, que "há problemas de gestão, vinculada à falta de recursos humanos básicos, os controladores, e equipamentos". Avisou, no entanto, que o Brasil tem sistema de aviação com um dos melhores índices de padrão de segurança, com baixíssimos índices de acidentes. "Estamos a caminho de solucionar uma crise lamentável", previu ele, insistindo que "não foi o acidente que gerou a crise, mas apenas a deixou mais visível". CPI A sessão no Senado, que o Planalto esperava ser mais ríspida e dura de ser enfrentada do que à da Câmara, acabou em aplausos para todos os presentes, pelos minguados cinco senadores, todos defendendo o governo. A oposição, que prometia aproveitar a audiência para conseguir as últimas assinaturas que faltam para a instalação da CPI do apagão aéreo, só teve voz com Heráclito Fortes, que saiu da presidência da Mesa, para o plenário, para poder sabatinar as autoridades. O próprio senador ficou indignado com a ausência dos colegas do PSDB. "Alguém viu algum tucano por aí", perguntava. "Depois deste debate, não tem mais clima para discutir CPI", sentenciou Paulo Paim (PT-RS), encerrando a sessão e puxando os aplausos. Matéria atualizada às 21h48

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.