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Ruth Cardoso teve carreira marcante na academia

Ela foi uma das primeiras a perceber a emergência dos movimentos sociais que abrigavam diversidades

Por Carlos Marchi
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A antropóloga Ruth Cardoso tinha luz própria. Ela foi um dos primeiros acadêmicos brasileiros a perceber a emergência dos movimentos sociais que abrigavam diversidades - como os feministas, étnico-raciais e de orientação sexual. Até a década de 70, a academia considerava que esses movimentos não tinham status para merecer a atenção da universidade, mas Ruth já os chamava de "novos movimentos sociais", conta a antropóloga Jacira Melo, aluna dela na USP nos anos 70. Veja também: Morre em SP Ruth Cardoso Conheça os principais fatos da vida de Ruth Cardoso  Galeria de fotos da trajetória de Ruth Cardoso  Antropóloga, Ruth Cardoso era intelectual reconhecida Serra e Alckmin lamentam a morte 'Ruth deu novo sentido ao papel de primeira-dama' Lula: morte 'é uma grande perda' para o Brasil Ela marcaria a sua carreira acadêmica pela inovação. Em meados da década de 50, quando o tema ainda era muito árido e distante, ela estudou a imigração japonesa para São Paulo, lembra o ex-ministro da Cultura Francisco Weffort, e a transformou em tese universitária. Depois do golpe de 1964 enfrentou o exílio ao lado do marido: no Chile, enquanto Fernando Henrique trabalhava na Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), ela foi professora da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), que recebia alunos de muitos países. Depois foram para a França e, de volta ao Brasil, fundaram o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que marcaria a pesquisa social no Brasil. No início dos anos 80, enquanto Fernando Henrique se envolvia na aventura política que o levaria ao Senado e mais tarde à Presidência da República, Ruth se aprofundou na vida acadêmica. No Cebrap, num tempo em que poucos perceberam a emergência dos movimentos sociais, ela montou uma primeira equipe para pesquisá-los, quando as organizações não-governamentais ainda eram desconhecidas. Depois diria que desde os anos 70, em plenos anos de chumbo, já percebia os sinais da construção de uma sociedade participativa no Brasil. Ainda na fase de transição para a montagem do governo FHC, ela concebeu a criação do programa Comunidade Solidária. Separou como ninguém o público e o privado: só os amigos antigos tinham livre trânsito na residência presidencial, conta o ex-secretário da Presidência, Eduardo Jorge. Ao mesmo tempo, revelou-se como o lado franco e progressista do governo. Quando alguém lhe perguntou sobre o então senador Antonio Carlos Magalhães, disse, sem meias medidas, que o PFL tinha dois lados e ACM era o lado ruim. Com a declaração, criou um contencioso que custou a ser resolvido pelo marido. O então ministro José Serra dizia que recebia ordens dela, mas não de FHC. Vanguarda, eles já eram há muito tempo. Quando os filósofos Jean Paul Sartre e sua mulher Simone de Beauvoir vieram a São Paulo, em 1960, na primeira fila do auditório acadêmico que os ouvia estava um casal marcante de professores da USP - Fernando Henrique e Ruth Cardoso. Nascida em Araraquara, ela e Fernando Henrique se conheceram na USP e se casaram em 1953. Apesar de sua aversão à prática política - "Partido não é comigo", disse uma vez, segundo registrou sua amiga Fátima Pacheco Jordão -, foi uma das principais conselheiras do marido, enquanto Fernando Henrique esteve no governo. Era doutora pela USP e pós-doutora pela Universidade de Columbia, nos EUA. Presidiu o conselho assessor do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) sobre Mulher e Desenvolvimento e integrou a junta diretiva da Comissão da OIT (Organização Internacional do Trabalho) sobre as Dimensões Sociais da Globalização.

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