Roubo de cargas dá prejuízo anual de R$ 500 milhões

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Por Agencia Estado
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O motorista obedeceu a ordem e ajoelhou entre os três colegas. Um dos bandidos aproximou-se por trás e apertou o gatilho da pistola semi-automática duas vezes, acertando-lhe a nuca. A vítima foi executada porque acionara o alarme da carreta rastreada por satélite, parando o caminhão, um dos quatro dominados pelos ladrões. O comboio carregado de chocolates havia saído do Espírito Santo e dirigia-se ao Rio de Janeiro quando foi atacado. "Eles fizeram isso para servir de exemplo", conta o coronel Paulo Roberto de Souza, assessor de Segurança do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e Região (Setcesp). Estima-se que o roubo de carga provoque prejuízos de R$ 500 milhões por ano no Brasil. Só em 2000 as quadrilhas levaram R$ 195,4 milhões em cargas apenas no Estado de São Paulo, que concentra cerca de 50% dos casos ocorridos no País. Esse tipo de crime cresceu 18,5% no ano passado, em relação a 1999, registrando 2.288 casos no Estado, ou um roubo a cada quatro horas. Para tentar combater essa escalada, o Ministério da Justiça criou há dois meses um grupo de trabalho para estudar medidas que possam ser adotadas pelo governo federal, pela indústria e pelas polícias estaduais. Além disso, o Congresso instalou Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), presidida pelo senador Romeu Tuma (PFL-SP). "Descobrimos que alguns traficantes de drogas usam o roubo de carga para financiar suas atividades", afirma Tuma. Quem ganha - Além dos traficantes de droga, outras pessoas lucram, e muito, com o roubo de carga. Ganham os assaltantes, os atravessadores que encomendam e repassam as mercadorias, os comerciantes que pagam pela carga 30% a 50% do valor de mercado e as revendem protegidos por notas fiscais frias, os policiais corruptos, os caminhoneiros que participam dos bandos e até donos de transportadoras que desviam produtos e ainda recebem o dinheiro do seguro. As investigações da polícia paulista mostram que as quadrilhas estão divididas em compartimentos nos quais, por exemplo, o homem que participa do assalto não cuida do armazenamento ou do transporte da carga. "É preciso uma ação conjunta da polícia com a Receita estadual para combater o receptador. Para mim, ele é nada mais que o mandante do crime, pois encomenda a mercadoria", diz o delegado Godofredo Bittencourt, diretor do Departamento de Investigações sobre Crimes Patrimoniais (Depatri). Além disso, ele defende que a indústria crie mecanismos de identificação das cargas, como números de série, para facilitar a localização de mercadorias roubadas, principalmente as de eletrônicos e os tecidos. "O roubo de alguns tipos de cargas diminuiu e de outros aumentou, como o caso da gasolina. Basta passar a carga para outro caminhão e não há mais como identificá-la", diz o policial. Em 2000, o Depatri prendeu 484 receptadores e 512 ladrões. Mas a ação da polícia não satisfaz as transportadoras. "A resposta deles está aquém do que precisamos", diz o coronel do Setcesp. Para o sindicato, há omissão do motorista ou participação no roubo em cerca de 25% dos casos analisados pela entidade. "Essa omissão é, na maioria das vezes, só o temor de acionar o botão de alarme." O medo dos caminhoneiros, segundo ele, é terminar com dois tiros na nuca, como o motorista da carga de chocolates.

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