Reverendo que negociou 400 milhões de doses de vacina pede para não ir à CPI

Amilton Gomes de Paula teria  proximidade com o presidente Jair Bolsonaro

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BRASÍLIA - O reverendo Amilton Gomes de Paula enviou nesta segunda-feira, 12, para a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid um atestado informando a "impossibilidade de comparecer ao depoimento agendado" pelo colegiado. A ida dele à comissão está marcada para a próxima quarta-feira, 14. O atestado é considerado informação sigilosa e não foi revelado o motivo do pedido no sistema da CPI. O presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse ao Estadão que Amilton afirmou ter problemas renais e que a solicitação está sendo analisada por uma junta médica do Senado.

Omar Aziz (sentado), presidente da CPI da Covid; Randolfe Rodrigues, vice (esq.); e o relator Renan Calheiros Foto: Edilson Rodrigues/Ag. Senado

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Amilton é fundador da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), organização não governamental que negociou, em nome da Astrazeneca, vacinas contra a covid-19 com o governo federal. Embora se digam representantes da vacina inglesa, a empresa nega que tenha intermediários e diz que negocia diretamente com o governo brasileiro por meio do laboratório da Fiocruz.

O nome do reverendo apareceu pela primeira vez na comissão durante o depoimento do policial militar Luiz Paulo Dominguetti, que declarou que teve reuniões agendadas no Ministério da Saúde por intermédio de Amilton. O PM disse que se encontrou com o coronel Elcio Franco, então secretário-executivo do Ministério, e Laurício Monteiro Cruz, então diretor de imunização da pasta, por intervenção do reverendo.

Dominghetti foi convocado pela CPI porque disse, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, cobrou propina de US$ 1 por dose da vacina AstraZeneca para fechar contrato com uma empresa chamada Davati Medical Supply, em fevereiro. Não houve acordo. Dias foi demitido há duas semanas. Laurício Cruz também foi exonerado semana passada.

O deputado Luís Miranda (DEM-DF) e o irmão dele, o servidor Luis Ricardo, haviam dito à CPI que Dias fazia pressão para que a compra da Covaxin fosse acelerada. O negócio previa uma antecipação de pagamento de US$ 45 milhões para uma offshore.

No dia 16 de março, a um interlocutor identificado como "Rafael Compra Vacinas", Dominghetti citou o reverendo Amilton ao falar da negociação de vacinas com o governo. “Ontem, o Amilton falou com Bolsonaro, ele falou que vai comprar tudo”, disse o policial em mensagens reveladas após ele entregar o celular para uma perícia.